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Introspecção e renovação

Introspecção e renovação

Introspecção e renovação

Olhar para dentro é olhar para fora. Quando não há dentro nem fora, o que é?…

Por Monja Coen

Perguntas como essas são comuns no Zen Budismo. Mais do que palavras e conceitos temos de penetrar a grande verdade íntima de cada criatura.
Esta grande verdade, também chamada de Lei Verdadeira ou de Darma de Buda, por nós budistas, contem as palavras mas não pode ser contida por elas.
Momentos de silencio e de encontro com nossa essência real nos colocam em direto encontro com toda a do cosmos.
Somos a vida.
Não viemos de fora, nem iremos para fora.
Embora estejamos o tempo todo em perfeita integração com o todo e em constante transformação, nem sempre assim percebemos.
Por isso a necessidade de silenciar. De nos sentarmos em uma postura de tranquilidade. que permita estabilidade e equilíbrio. Pode ser numa cadeira, numa almofada, num banco. Se pudermos manter a coluna ereta e a cervical também alongada, sem nos encostarmos em nada e sentirmos nossa base nos ísquios, os ossos da bacia, moveremos o tronco lentamente da para a direita até encontrarmos o centro de equilíbrio.
Apenas pessoas sentadas.
Sem intenção nenhuma.
Respirando conscientemente.
A expiração mais longa que a inspiração.
Percebendo os movimentos da mente: pensamentos, , sentimentos, imagens, músicas, palavras, números. Mente incessante e luminosa. Não nos atrevemos nem mesmo a pensar ou a não pensar.
Nada de esvaziar a mente. Como esvaziar o que já é vazio por sua própria ?
E vamos adiante, bem antes (ou depois) de nossa história pessoal.
Qual a face que você tinha antes de seus pais nascerem?
Esta é outra frase para ser penetrada durante a meditação Zen. Não é um jogo de palavras, é um meio expediente para irmos além da mente lógica e conhecermos a nossa grande intimidade com tudo que é.
Intersomos.
Somos o fluir incessante da mpva ação, do novo momento, do ressurgir, do vir a ser.
Podemos discernir e escolher gestos, palavras e pensamentos que transformam realidades.
Renovando nossas ideias, nossos conceitos, nossa maneira de falar, pensar, filosofar, questionar, sentir, tocar, ver, ouvir, ser. Renascemos a cada instante para a experiência do interser.
Nesta renovação nos percebemos não como parte do todo, mas como o todo manifesto em cada ser.
Assim cuidamos.
Cuidamos com ternura e sabedoria de nosso corpos e mentes, individuais e coletivos. Nosso comum, a Mãe e todas as formas de vida que permitem nossa vida humana.
Como transformar uma de numa cultura de paz?
Não pela luta, pela disputa, pela , pela hostilidade. Mas pela construção. Pelo ouvir para entender, cultivando o diálogo e sendo capazes de ir além de nossas necessidades pessoais para o bem coletivo.
Silencio.
Todos os sons e todos os ruídos audíveis. Internos e externos. Compreendendo e escolhendo os sons e ruídos que possamos emitir.
Através da introspecção podemos renovar a vida.
A cada inspiração recebemos o que chega até nós, sem culpa e sem culpar. Apenas reconhecemos em cada molécula de oxigênio a vida das plantas, das águas, da terra, dos animais, dos insetos, dos pássaros, dos seres humanos. Todos que já foram, bons e maus, todas as situações agradáveis e desagradáveis em cada molécula de oxigênio. E circula pelo nosso corpo e purifica cada cé.
Então expiramos – e o que queremos colocar junto a essa molécula de gás carbônico? Que seja a capacidade de transformar raiva em compaixão e nos tornarmos um átomo de paz na Terra.
Somos co responsáveis pela vida que vivemos e pela herança que estamos deixando aos que virão.
Cuidemos, pois.

Mãos em prece
Monja Coen

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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