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Jabuti, perereca, sabiá, tamanduá: resistência Tupi em nomes de animais brasileiros

Jabuti, perereca, sabiá, tamanduá: resistência Tupi em nomes de animais brasileiros

É certo que a colonização portuguesa conseguiu transformar jaguar em onça e tapir em anta, além de produzir alguns híbridos, como tamanduá-bandeira e sapo-cururu. Mas jabuti, perereca, sabiá, tamanduá são evidências de que a força e a tradição da taxonomia indígena prevaleceram para designar a maioria das cerca de 116 mil espécies da fauna existentes no Brasil…

Por Zezé Weiss

Os portugueses adotaram a maioria das denominações de bichos, plantas e acidentes geográficos dados pelos povos originários, mas também capricharam na hibridez. É o caso do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), o maior canídeo da América do Sul, que associa a palavra portuguesa, originária da latina lupus (lobo) à tupi (a)guará (“pelo de penugem”). E assim o aguaraçu dos indígenas virou o nosso lobo-guará. 

O mesmo aconteceu com a surucucu-pico-de-jaca ou cobra-topete (Lachesis muta), a víbora que os indígenas chamavam de surucucu (“que dá muitas dentadas”) ou surucucutinga, em que tinga é um pospositivo do tupi para branco.  

Em nomes como anu-preto/brancoaraponga-da-horta, mandi pintadoperereca-azulpreá-da-índia, sabiá-laranjeira, seriema-de-pé-vermelhotamanduá-bandeiratatu-canastratucano-cachorrinhourutu-cruzeiro e inúmeras outras denominações de bichos, ao nome indígena original, em tupi, foi acrescentada uma achega portuguesa. Já em sapo-cururu tartaruga-aruanã, o tupi foi para o final. 

Alguns nomes trocados pelos portugueses prevaleceram como exceções: abutre (urubu), cachorro-vinagre (janauí), beija-flor e colibri (guanambi), caranguejo (uaçá), cágado (jabuti), cascavel (boiquira, boicininga), gaivota (atiati), gavião real ou harpia (acangoera, uiraçu), ema (nandu), papagaio (ajeru), veado (suaçu), vespa (caba). 

Mas em tucano-pacova tuiú-mirim, esta abelha que ainda tem outro nome indígena – iraío tupi venceu. E venceu também em boitatá, o monstro da primeira lenda brasileira, que os indígenas usavam para apavorar os portugueses, dizendo que o bicho sairia das águas para beber o sangue e comer as vísceras do invasor, com o humano vivo. 

 

Zezé Weiss – Jornalista Socioambiental

Pesquisa: 

https://outraspalavras.net/descolonizacoes/em-nomes-de-animaisbrasileiros-a-resistencia-tupi/

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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