Jean Charles de Menezes: Sadly Missed

Em 22 de julho de 2005, por volta de 10h da manhã (horário londrino), o eletricista brasileiro Jean Charles de Menezes, nascido em Gonzaga, , em 7 de janeiro de 1978, foi morto por policiais armados da  SCO19, unidade armada da  Scotland Yard, dentro de um trem do metrô, na estação de Stockwell, na Inglaterra.

Supostamente, os policiais o confundiram com Hamdi Adus Isaad (ou “Hussain Osman”) suspeito de tentar fazer um fracassado atentado a bomba no metrô, apenas  semanas depois dos atentados de 7 de jullho,  quando uma série de explosões atingiu o sistema de transporte publico de Londres, matando 56 pessoas.

Os policiais inicialmente alegaram que interpelaram o suspeito, mas relatos posteriores indicam que ele não foi sequer interpelado. Nenhum oficial enfrenta acusações relacionadas à sua . Apesar de já contido, ele foi baleado sete vezes na cabeça e uma no .

Para o jornalista Fernando Duarte, da BBC em Londres, uma sucessão de erros contribuíram para a morte de Jean Charles, incluindo falhas em todos os níveis das forças de responsáveis pela operação que buscava evitar novos ataques terroristas em Londres. Veja sete erros que resultaram na morte do brasileiro:

1. Identidades misturadas

Jean Charles de Menezes teve o azar de morar no mesmo bloco de apartamentos em Tulse Hill, no sul de Londres, onde vivia o etíope Hussain Osman, que, no dia 21, tinha participado de um atentado frustrado a trens do metrô nos moldes do ataque que duas semanas antes tinha deixado mais de 50 mortos e mais de 500 feridos. Um documento de Hussain teria sido encontrado na mochila que ele usara para tentar explodir uma bomba de fabricação caseira – que não detonou.

Segundo o inquérito que apurou as causas da morte do brasileiro, realizado em 2008, a equipe de operações especiais da polícia, de codinome S012, teve acesso a uma imagem de baixa resolução de Osman – uma reprodução da foto de seu passaporte. Nem todos os agentes que vigiavam o bloco de apartamentos tinham cópias da imagem. Isso teria ajudado os agentes a confundir Jean Charles com o etíope.

Scotland Yard
Direito de imagem SCOTLAND YARD
Image captionRetrato composto apresentado pela polícia de Londres

2. Posto ausente

A confusão com as identidades poderia ter sido evitada caso outra fatalidade não tivesse deixado o time de vigilância exposto. Um agente, de codinome Frank, estava na “tocaia” do bloco de apartamentos e tinha equipamento fotográfico e em vídeo para registrar o movimento de entrada e saída de pessoas. Mas no momento em que Jean Charles deixou o local, Frank, que estava numa van, tinha largado o equipamento para urinar. Se ele tivesse fotografado ou filmado Jean Charles, isso poderia ter ajudado a identificá-lo de forma correta.

3. A missão que nunca veio

O plano original da operação era de que equipes de policiais armados estariam em Tulse Hill para interrogar quem saísse do bloco de apartamentos. O problema é que a ordem jamais foi informada aos agentes. Em vez disso, apenas equipes de vigilância, sem treinamento em abordagem de suspeitos, estavam no local.

BBC
Image captionPoliciais armados não participaram da vigilância a Jean Charles

4. ‘Drible’

Jean Charles pegou o ônibus da linha 2, mas os agentes jamais deveriam tê-lo deixado entrar em um veículo de , se imaginavam que ele poderia ser Hussain. A falha deixou a polícia ainda mais nervosa, especialmente porque as informações sobre a do objeto de interesse dos agentes ainda eram desencontradas.

5. ‘Drible II’

BBC
Image captionA comandante da operação, Cressida Dick, foi quem deu autorização para o uso de força letal

O brasileiro se dirigia à estação de Brixton, mais próxima de sua casa, mas a encontrou fechada. Jean Charles voltou ao ônibus imediatamente e isso despertou suspeitas dos agentes que o seguiam, pois é um truque conhecido para tentar despistar possíveis perseguidores.

6. Entrada em Stockwell

Assim como no caso do ônibus, a polícia falhou em permitir que o eletricista mineiro entrasse na estação de Stockwell. Especialmente porque a comandante da operação, Cressida Dick, tinha dado ordem para que Jean Charles fosse impedido “a qualquer custo” de chegar até o metrô. No entanto, agentes que participaram da vigilância disseram durante o inquérito que em nenhum momento receberam ordens para interceptar o suspeito.

BBC
Image captionO túmulo de Jean Charles de Menezes, em Gonzaga (MG)

7. Rádios ruins

O cenário agora era caótico: além de haver dúvidas sobre a identidade do suspeito, agentes da equipe de agentes armados C019 afirmaram, em seus depoimentos, que a recepção nos rádios que utilizavam para se comunicar com os outros agentes e a central de comando era muito ruim, a ponto de, às vezes, o sinal sumir de vez. Um dos homens que executou o brasileiro, identificado apenas como C2, disse ter ouvido dos agentes que seguiam Jean Charles de que se tratava de Hussain. Mas “Ken”, um dos homens que seguia “no cola” do brasileiro, negou que a confirmação tenha sido dada.

Em todo caso, C2 e o colega C12 terminaram por descarregar suas pistolas automáticas na cabeça do brasileiro, seguindo o protocolo “Kratos”, criado em 2003 pela Scotland Yard para lidar com a ameaça de ataques suicidas e que prevê atirar para matar em casos do gênero.

ANOTE AÍ:

Fontes:

Imagens & História 2.0

https://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_Jean_Charles_de_Menezes

https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/07/150717_jean_charles_sete_erros_fd

Armas

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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