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José Juarez Leitão dos Santos: presidente do CNS (1998-2002)

José Juarez Leitão dos Santos: presidente do CNS (1998-2002)

Perguntei um dia ao Juarez se podia entrevistá-lo. 

– Claro! disse ele. O que você quer saber? 

– Tudo. Disse eu. 

Por Marcos Jorge Dias

Natural de Feijó-AC, onde hoje vive criando peixes e galinhas, e tirando açaí, Juarez começou nossa entrevista falando da grande admiração que tinha por seu pai, uma liderança expressiva na sua comunidade, que tinha uma subsede do Sindicato dos Rurais de Feijó (STR-Feijó). 

Muito antes de ser um dos fundadores do PT na região, o velho seringueiro, me contou Juarez, fez uma espécie de revolução local, ao se recusar a pagar renda para o seringalista que se pretendia dono de sua colocação. Juarez seguiu os passos do pai. 

Com pouco mais de 19 anos, foi eleito delegado sindical e, em 1988, com apenas 22 anos de idade, elegeu-se presidente do STR-Feijó. No mesmo ano, organizou um encontro de da região, com a presença de , a quem conheceu mais de perto naquele encontro. 

Antes, porém, em 1987, os dois já haviam estado juntos em uma reunião da Comissão Pastoral da Terra-CPT em Rio Branco, onde Juarez chegou depois de, segundo ele, passar por uma situação muito engraçada:

Uma vez chegou uma da CPT lá na nossa comunidade e se reuniu com o pessoal. Aí eu boicotei a reunião dela, porque eu não sabia de quem se tratava, nem o que ela queria. Em vez de ficar com raiva de mim, a mulher foi à minha casa saber a razão do boicote. Como prêmio por meu cuidado com minha comunidade, ela conseguiu uma passagem para o encontro da CPT em Rio Branco, com todos os sindicatos rurais do estado do Acre. Foi lá que vi o Chico Mendes pela primeira vez.

Juarez foi delegado sindical, presidente do STR-Feijó e presidente da Federação dos Trabalhadores em Agricultura do Acre – Fetacre. Mas, para ele, o marco mais relevante de sua vida foi o CNS: 

O sindicato me mostrou o Acre e o CNS me mostrou pro Acre, pro e para o mundo. Foi na minha gestão como presidente do CNS (quando a ministra Marina era senadora da República) que conseguimos colocar os moradores da Reserva como beneficiários da Reforma Agrária, para poderem ter acesso a ajuda residencial. A gente fez muita coisa.

Porém, segundo ele, seu maior empenho foi para a criação da Resex de Tarauacá. 

Pra mim foi uma questão de honra, porque a primeira vez que fui lá vi uma miséria tão extrema… Eu passei

42 dias dentro da Resex fazendo abaixo-assinado: pra levar pro CNPT, e o CNPT depois levar para o Ministério do . Tenho muito orgulho de fazer parte dessa .

1608260656039Marcos Jorge Dias –  Escritor. Estudante de Jornalismo. Membro do Conselho Editorial da Revista Xapuri. Foto de capa: Foto: Marcos Jorge Dias.

 
 
 
 
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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