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Jovens de baixa renda veem o futebol como ascensão

Jovens de baixa renda veem o futebol como uma esperança de ascensão social

O futebol, historicamente, é o esporte mais popular do (e do mundo), sendo o mais assistido e praticado pelos brasileiros.

Por Mayhan Araujo e André Borghi/Mídia Ninja

Na atualidade, jogadores de futebol que conseguem ser contratados por clubes da elite nacional e de outros países, sobretudo os da Europa, conseguem grande ascensão social e, consequentemente, muitos se tornam milionários e ostentam carros de luxo, mansões, jatinhos, dentre outras coisas. Isso provoca em muitas crianças, adolescentes e jovens, principalmente os que possuem baixa renda, um olhar ao futebol como uma esperança de ascender socialmente e contribuir financeiramente para com os seus familiares, visto que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, 31,6% da população brasileira se encontrava em estado de pobreza e 5,9% de extrema pobreza.

No entanto, um fator implícito no mundo do futebol é que apenas uma minoria consegue conquistar uma vida de luxo através dessa profissão. De acordo com relatório da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) publicado em 2016, e divulgado pelo site do Globo Esporte, 23.238 jogadores de futebol ganhavam até R$1.000,00 mensais em seus clubes, o que equivalia a 82,40% dos atletas cadastrados. Além disso, 96,08% ganhavam até 5 mil reais. Para efeito de comparação, no ano de 2016, o salário mínimo era de R$880,00, valor semelhante ao que a maioria dos jogadores do país ganhava mensalmente.

Outro obstáculo ao iniciar essa carreira é que, além do talento, o jovem atleta precisa que a sua família tenha condições financeiras para comprar materiais, como chuteira, e, em alguns casos, arcar com custos de passagens para outros estados, estadia e alimentação, com o objetivo de fazerem testes nos clubes, sem a garantia de que terão aprovação e um retorno financeiro futuro. Apesar das dificuldades, temos exemplos de grandes jogadores negros e de origem periférica que conseguiram sucesso, como o Gabriel Jesus, criado no Jardim Peri, bairro da periferia de São Paulo, localizado na zona norte da cidade. Revelado pelo Palmeiras, o jogador conquistou títulos importantes nacionais, foi campeão Olímpico pela seleção brasileira, jogou no Manchester City, da Inglaterra, e, atualmente, atua pelo Arsenal, também inglês.

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Foto: Edu Garcia/R7

Todas essas conquistas, em alguns casos, podem vir acompanhadas de problemas de saúde mental, resultado de uma falta de preparo aos atletas, que, por serem de origem pobre, carecem de estrutura psicológica para lidar com o dinheiro e os holofotes em excesso. Além disso, o atleta precisa lidar com problemas pessoais, muitas vezes ligados a família e amigos, que podem ser um empecilho, já que o dinheiro conquistado e os diversos fãs não preenchem o espaço afetivo. O ex-atacante Adriano, conhecido como Imperador, lida com críticas até hoje pelo fim precoce da sua carreira. Entretanto, ele teve que lidar com questões delicadas extracampo a partir de 2004, apesar de ainda ter integrado a lista dos melhores do mundo da FIFA e da Bola de Ouro em 2005 e 2006. “Não era mais eu depois que meu pai morreu […] isso mexeu um pouquinho com a minha cabeça. Eu não conseguia mais ser eu. Eu não conseguia mais jogar.”, disse o ex-seleção brasileira ao The Players Tribune, em entrevista de 2021.

Outro exemplo bastante conhecido é o do Luan, ex-Grêmio, Santos e Corinthians e atualmente no Vitória. O meia-atacante, que foi “Rei da América” em 2017, vive fase difícil na carreira há alguns anos. Desde o fim de sua primeira passagem no Grêmio, em 2019, o atleta não consegue se firmar em nenhuma equipe. “Um fato que mexeu comigo foi a perda do meu irmão, meu parceiro desde os quatro anos de idade. Desde que o meu pai morreu, a gente fazia tudo junto. Era meu irmão de sangue. Foi em dezembro de 2020. No meio do ano, perdi um parceiro, melhor amigo, e, em dezembro, meu irmão. Isso foi um choque.”, disse o atacante em entrevista cedida ao Podcast do Denílson Show, em 2023. O jogador ainda chegou a frisar que buscou acompanhamento psicológico: “Fui buscar ajuda e tudo. Isso me ajudou a me recuperar. Primeiro como pessoa, ser humano. Meu primeiro objetivo era esse.”. Vale lembrar de uma entrevista dada ao Globo Esporte em abril de 2017, quando Luan contou sobre as dificuldades para se tornar profissional: “Na adolescência, foi um pouco difícil. Tinha o sonho, mas não queria correr atrás pelas dificuldades. Acabei não indo para o outro lado, mas andava junto com pessoas que eram da vida errada. Graças a Deus, tive a cabeça boa. E pela minha mãe. Com 18 anos, botei na minha cabeça que iria jogar bola para dar uma vida melhor para ela, de uma forma honesta.”.

Embora o Brasil ainda seja um “celeiro” de talentos, falta muito em termos de estrutura para que crianças e adolescentes possam competir à altura e terem oportunidades de serem jogadores ou jogadoras. Os problemas relacionados à saúde, e desemprego também refletem no esporte mais popular do mundo. É necessário que haja um incentivo – financeiro, psicológico e estrutural – para que mais atletas possam desfrutar do sucesso dentro e fora das quatro linhas.

Fonte: Mídia Ninja Capa: Alex Ribeiro


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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