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Julho das Pretas: Mulheres negras movem a Terra

Julho das Pretas: Mulheres negras movem a Terra

A 25 de julho, em toda a América Latina e no Caribe celebramos o Dia Internacional da Mulher Negra. No Brasil, este é também o dia em que celebramos a memória da líder quilombola, rainha e chefe de Estado Tereza de Benguela, mulher negra que viveu no Vale do Guaporé, no Estado do Mato Grosso…

Por Iêda Leal

Tereza de Benguela liderou o Quilombo de Quariterê, onde ela implantou uma espécie de parlamento e um sistema avançado de defesa que resistiu da década de 1730 até o final do século do século XVIII.

Desde 2014, organizações de mulheres negras e mulheres negras auto organizadas se juntam em um grande movimento de mulheres negras para organizar, durante todo mês, o “Julho das Pretas”, com múltiplas reflexões do papel da mulher negra na sociedade brasileira.

Por todo o país serão realizadas ações de comemoração e de rememoração das lutas históricas das mulheres negras que, embora tornadas invisíveis pelo racismo e pelo machismo, insistem em seguir lutando contra vento e maré para saírem da triste estatística registrada pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Eclac) em um estudo de 2017 que aponta que 20% das mulheres negras brasileiras estão entre a parcela de 10% da população mais pobre do Brasil.

Em artigo recente, Isabela da Cruz disseca outros dados alarmantes da desigualdade, divulgados em março de 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): Entre pessoas de 25 a 44 anos de idade, o percentual de mulheres brancas com ensino superior completo (23,5%) é 2,3 vezes maior do que o de mulheres pretas ou pardas (10,4%).

Considerando a essencialidade da educação, 30,7% das pretas ou pardas de 15 a 17 anos de idade apresentaram atraso escolar no ensino médio, enquanto apenas 19,9% das mulheres brancas dessa mesma faixa etária estavam em situação semelhante.

Mulheres Negras Tereza

Como as mulheres negras são as que mais se dedicam aos afazeres domésticos, com 18,6 horas mensais, para estudar, em sua grande maioria, as mulheres negras precisam conciliar estudos com trabalho ao mesmo tempo em que tentam sobreviver num mundo de violentos ataques racistas, como no caso da vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018, no Rio de Janeiro.

O Julho das Pretas é, portanto, um momento de reflexão e de ação à imensa gama de problemas sociais que, em pleno século XXI, continuam achacando a população negra, em especial as mulheres negras. É tempo de lutar contra todas as formas de violência contra as mulheres negras. Segundo o Atlas da Violência (IPEA – 2018), a taxa de homicídios de mulheres negras foi 71% superior à de mulheres não negras.

Situação que se agrava aqui no meu Estado de Goiás que, além de ser aquele com a pior taxa de homicídios de mulheres negras (8,5%), tem uma desigualdade acentuada: a taxa entre as mulheres não negras é menos da metade (4,1%).

Por essa razão, nós nos somamos ao movimento de mulheres negras que se juntam ao movimento terra de direitos na defesa de nossa luta comum, simbolizada pelo slogan do Julho das Pretas:

Mulheres negras movem o Brasil. Mulheres Negras movem a Terra!

ieda111Iêda Leal
Tesoureira do SINTEGO; Secretaria de Combate ao Racismo da
CNTE; Conselheira do Coordenadora Nacional do Movimento Negro
Unificado – MNU; Vice-Presidenta da CUT-GO

Capa Dandara o Globo

Dandara – O Globo


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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