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Juventude acampada debate luta por terra e soberania

Juventude acampada debate luta por terra e soberania

Mobilização no DF também doa alimentos à comunidade Sol Nascente

Por Daniella Almeida/Agência Brasil

Os cerca de 2 mil jovens representantes de movimentos sociais que participam do Acampamento da Juventude em Luta, por Terra e Soberania Popular, organizado pela Via Campesina , participaram no quarto e penúltimo dia da mobilização, nessa segunda-feira (16), do debate “A Juventude e a luta ambiental: por terra e soberania popular estamos aqui!”. 

No encontro, as debatedoras discutiram a lógica capitalista, a distorção da proposta do mercado de carbono e a necessidade de fortalecer a chamada , com a verdadeira inclusão de camponeses, povos e comunidades tradicionais para redução das desigualdades sociais. 

“Nesse período, acompanhamos, o crescimento dos agrocombustíveis, monoculturas, transgênicos e temos visto, cada vez mais, o crescimento de projetos de neutralização de carbono que impedem que as comunidades usem os territórios e que trazem esquemas de vigilância nessas localidades”, observa Camila Moreno, membro do grupo Carta de Belém. 

Em sua fala, Renata Menezes, da direção nacional do Coletivo de Juventude do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), defendeu que a classe trabalhadora precisa retomar as lutas de massa no país. “Neste momento, é a juventude que vai ser ponta de lança na que está posta, nas diferentes expressões. Ela está no debate em torno da crise ambiental, de conclusão de um que permita a soberania popular se constituir.” Renata Menezes faz um balanço de avanços obtidos a partir da mobilização dos jovens. “Nós avançamos na perspectiva revolucionária do que é o poder popular, a partir dos nossos territórios, a partir da organização do topo das cidades, da defesa dos bens comuns, do combate à e da vida da juventude como prioridades para que os próximos que virão não tenham que encontrar as condições de hoje”. 

Na mesma roda de conversa, a coordenadora executiva das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Marciely Ayap Tupari, enumerou violações e pressões sofridas dentro dos territórios indígenas. Marciely destacou que a participação no encontro serve para fortalecer a juventude, uni-la e somar forças na luta por direitos. “Se hoje a gente tem direitos garantidos, é porque se mobiliza, vai à luta e não espera sentado. Agora, temos que lutar da mesma forma que eles estão lutando: com a caneta e papel. Porque a gente sabe que muitas coisas envolvem questões políticas. E precisamos ficar atentos a isso”. 

Mais vozes 

Desde sexta-feira (13), os participantes do Acampamento da Juventude, em Brasília, estão imersos em discussões sobre diversos temas, em uma grande tenda. Nessa troca de experiências, eles tentam conscientizar e formar opiniões sobre o enfrentamento das mudanças climáticas e outras questões ambientais; combate à homofobia e ao racismo; igualdade de gênero; consequências da diminuição de territórios preservados; demarcação de terras; sustentabilidade, a educação, mesmo longe dos grandes centros urbanos; a permanência dos jovens no campo ou retorno deles a seus territórios. 

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Brasília (DF) 16/10/2023 – Daniel S de Souza participa do acampamento da Juventude em Luta, por Terra e Soberania Popular realizado pela Via Campesina. reúne dois mil jovens camponeses de 22 estados. Na programação, debates sobre a conjuntura nacional e global, a questão feminista e antirracista, arte, cultura e as tarefas da juventude frente às questões ambientais.
Foto: José Cruz/Agência Brasil

Daniel Souza, da Coordenação do Coletivo Nacional de Juventude do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), tem 24 anos e entende que o momento é de mais diálogo com o atual governo federal, mas, que a luta por direitos é contínua. “Tem essa possibilidade de diálogo [governo federal]. Pelo menos, nos recebem para conversar e negociar as pautas da juventude, do campesinato. Mas, tem a tensão da luta de classes. Porque a juventude camponesa, os movimentos sociais têm essa função. Nós não somos submetidos a nenhum tipo de governo. Por mais que a gente apoie, temos a nossa autonomia como movimento social. Vamos pressionar o governo para ter as nossas condições.” 

A representante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) – Brasil Raiara Pires disse que luta, desde os 14 anos, em Minas Gerais, para que as populações impactadas pela destruição do meio ambiente, provocada pela mineração, sejam ouvidas sobre a criação de alternativas econômicas para garantir a sobrevida digna. “Historicamente, a institucionalidade sempre foi muito blindada para participação popular. E contra todos aqueles campesinos, ribeirinhos e quilombolas que estavam em territórios, cujo subsolo tem riquezas cobiçadas por empresas transnacionais, há uma correlação de forças ali que nos desfavorece.” 

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Brasília (DF) 16/10/2023 – Raiara Pires participa do acampamento da Juventude em Luta, por Terra e Soberania Popular realizado pela Via Campesina. reúne dois mil jovens camponeses de 22 estados. Na programação, debates sobre a conjuntura política nacional e global, a questão feminista e antirracista, arte, cultura e as tarefas da juventude frente às questões ambientais.
Foto: José Cruz/Agência Brasil

A pernambucana de 27 anos Daiane Araújo, vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), ressaltou que mesmo com tanta nas reivindicações e origens distintas, há pontos de convergência na vivência dos presentes ao encontro. “Em comum, somos a juventude da classe trabalhadora que acredita na transformação da realidade a partir da luta. Precisamos mudar esse sistema que está colocado, que nos expulsa do campo e das escolas, que sucateia a universidade e faz com que a gente também não esteja nesse espaço. E ainda, [o sistema] que precariza o trabalho ou que não oferece trabalho para a juventude que, sem dúvida, é a mais afetada pelo subemprego”. 

As questões do preconceito e da violência contra trabalhadores do campo, devido à orientação sexual e identidade de gênero, foram também debatidas por participantes do acampamento, que tem penduradas diversas bandeiras do arco-íris, símbolo do movimento LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais e demais orientações e identidades de gênero).  

Kevin Nicolas, integrante do Coletivo LGBT do MST, combate a LGBTfobia e batalha pela liberdade dos corpos. Para ele, é preciso entender a diversidade de quem luta pelas causas campesinas. “As formas de violentar nossos corpos sempre estiveram em pauta na como um todo, sempre foram um ato de comemoração para os que organizam a morte daqueles que se permitem amar na plenitude. Nessa onda extremista, há um processo de fazer com que nossa existência seja cada vez mais retirada”. 

O indígena Takati Xikrin, de Parauapebas (PA), pegou o microfone para relatar que seu povo tem sido vítima de perseguições e impactado pela exploração comercial do território indígena. “O povo Xikrin está morrendo aos poucos, por causa desses conflitos. Mas ninguém está sabendo disso. Meu objetivo aqui, como representante dos Xikrin, é aprender com os movimentos da luta da juventude no campo, para que eu possa levar esse movimento ao meu povo, para que a juventude, principalmente, possa se mobilizar”. 

 
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Brasília (DF) 16/10/2023 – Acampamento da Juventude em Luta, por Terra e Soberania Popular realizado pela Via Campesina. reúne dois mil jovens camponeses de 22 estados. Na programação, debates sobre a conjuntura política nacional e global, a questão feminista e antirracista, arte, cultura e as tarefas da juventude frente às questões ambientais.
Foto: José Cruz/Agência Brasil

Outras atividades 

Na tarde dessa segunda-feira, para celebrar o Dia Nacional da Alimentação e o Dia Mundial da Soberania Alimentar, comemorado em 16 de outubro, 200 jovens da Via Campesina saíram do acampamento do Ginásio Nilson Nelson, no centro de Brasília, e promoveram uma iniciativa solidária para combate à fome, por meio da doação de cinco toneladas de alimentos a cerca de 600 famílias residentes na Região Administrativa (RA) do Distrito Federal, conhecida como Comunidade Sol Nascente. O local, na periferia de Brasília, é caracterizado pela vulnerabilidade econômico-social. 

De acordo com o MST, a mobilização humanitária fez parte da Jornada de Lutas com o lema “Por Terra e de Verdade para o Povo”. 

A representante do MST Renata Menezes diz que a ação teve o objetivo destacar a importância da agricultura camponesa e da reforma agrária como forma de enfrentar a insegurança alimentar no país. “São os camponeses quem podem garantir que tenhamos um país sem fome e sem miséria. Por isso, são necessárias políticas públicas que valorizem e impulsionem a produção desse segmento.” 

Para esta terça-feira (17), a Via Campesina Brasil planeja o plantio de árvores, em Brasília, pelos jovens participantes do Acampamento da Juventude em Luta por Terra e Soberania Popular. O encerramento do evento está previsto para o início da tarde, com o retorno dos jovens a seus municípios, de ônibus.

*Com informações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) 

Fonte: Agência Brasil Capa: José Cruz/Agência Brasil


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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