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KAROL CARIOLA: COMUNISTA PRESIDE PARLAMENTO CHILENO

Karol Cariola é a primeira comunista a presidir a Câmara dos Deputados do Chile 

Ex-líder estudantil, Karol Cariola destacou o compromisso com o povo chileno e expressou orgulho por ser a primeira comunista presidente da Câmara dos Deputados.

Por Cezar Xavier/Portal Vermelho

Karol Cariola faz ao tornar-se a primeira comunista a presidir a Câmara dos Deputados do Chile. A ex-líder estudantil, reconhecida por seus quase 250 mil seguidores no Instagram e no terceiro mandato legislativo, é obstetra e ginecologista, agregando uma perspectiva diversificada ao cenário político chileno.

Em seu discurso após assumir o cargo, Cariola expressou sua gratidão pela confiança depositada nela através de um acordo transversal com diferentes forças políticas. Ela destacou o compromisso de colocar as prioridades do povo chileno no centro de suas ações, e também expressou orgulho por ser a primeira mulher comunista eleita presidente da Câmara dos Deputados.

Karol Cariola prometeu trabalhar para avançar a reforma previdenciária, o pacto fiscal e melhorias na saúde e segurança. “Hoje caiu um veto atávico, não apenas anticomunista, mas também antidemocrático”, disse ela, sobre a dominância da oposição contra as iniciativas do Governo de Gabriel Boric. Apelou ainda à oposição para que contribua para o desenvolvimento do país, abandonando os apelos à atrofia do Governo e das políticas públicas que os cidadãos almejam.

“Esperamos que a disputa de ideias não se transforme em desqualificações e muito menos em mentiras, que só ajudam a desacreditar ainda mais o exercício da política e das instituições”, expressou.

A nova dirigente da mesa legislativa também expressou sua determinação em trabalhar por uma agenda de segurança porque, segundo ela, os chilenos têm direito a uma livre de crime.

Karol agradeceu a todos que lhe deram a responsabilidade de se tornar uma das cinco mulheres que presidiram o órgão legislativo na história do Chile.

KAROL CARIOLA: COMUNISTA PRESIDE PARLAMENTO CHILENO
Biblioteca do Congresso Nacional do Chile

Por um fio

Apesar das manobras da oposição para impedir a chegada do Partido Comunista do Chile (PCCh) à frente do cargo, a deputada conseguiu prevalecer na contra a candidata da direita e do partido Democratas, Joanna Pérez.

Após intensas negociações, a Câmara Baixa do Chile viu uma mudança de liderança no último dia 8 de abril, quando o presidente Ricardo Cifuentes, representante da Democracia Cristã (DC), formalmente renunciou ao cargo.

A renúncia abriu espaço para uma disputa acalorada sobre quem assumiria a presidência da Corporação.

Inicialmente, havia incertezas sobre quem ocuparia o cargo, com a oposição oferecendo a presidência a Joanna Pérez, enquanto o governo não tinha uma candidatura clara.

Essa falta de clareza levou a dúvidas sobre se algum dos candidatos alcançaria o quórum de maioria absoluta necessário para ser eleito.

Apenas trinta minutos antes do início da votação, o chefe de bancada do Partido Comunista (PC), Luis Cuello, oficializou a candidatura da deputada Karol Cariola, destacando sua posição como a deputada mais votada do Chile. Cuello expressou confiança de que Cariola garantiria uma maioria, o que se confirmou durante a votação.

Na primeira votação, nenhum dos candidatos alcançou o quórum necessário, com Cariola recebendo 76 votos e Pérez 75. Na segunda votação, com maioria simples, Cariola foi eleita presidente da Câmara, tornando-se a quinta mulher a liderar a Câmara Baixa. Acompanhando Cariola na mesa estavam o independente Gaspar Rivas e o representante da DC Eric Aedo, como primeiro e segundo vice-presidentes, respectivamente.

Após a eleição, além de Cariola discursar agradecendo o apoio e destacando a importância de trabalhar em uma agenda prioritária para os chilenos, também criticou a oposição por suas acusações injustas ao Partido Comunista.

No entanto, as palavras de Cariola não foram bem recebidas pela oposição, com o deputado Diego Schalper, da Renovação Nacional (RN), criticando o “tom inadequado” de seu discurso. Esse episódio sugere um relacionamento desafiador entre a nova presidência da Câmara e a oposição.

O ministro da Segpres, Álvaro Elizalde, também congratulou a nova mesa da Câmara e enfatizou a importância do diálogo democrático para avançar na aprovação de iniciativas legislativas que beneficiem os chilenos em sua vida cotidiana, de acordo com os compromissos do presidente Gabriel Boric.

Nas redes sociais, dirigentes e organizações políticas saudaram a eleição da nova presidente da bancada parlamentar.

“Hoje é um dia histórico para a nossa bancada, para o nosso partido como um todo e para a democracia. Todo o sucesso a nossa colega que é uma grande líder e tem todas as competências para este importante trabalho”, escreveu o deputado Boris Barrera.

“Vitória justa e legítima da Karol. Merecido por sua capacidade e comprometimento”, disse o presidente do PCC, Lautaro Carmona, em seu relato no X.

A ministra porta-voz do Governo, Camila Vallejo, felicitou a “primeira deputada comunista a presidir a referida corporação. Valorizamos o empenho daqueles que hoje honraram a sua palavra nesta votação. Quando os acordos forem cumpridos, todos avançamos”, afirmou.

De onde vem Karol?

A trajetória de Karol Cariola é marcada por um profundo envolvimento com questões sociais e políticas desde tenra idade. Nascida na região metropolitana de Santiago, ela iniciou seu interesse pela política estudantil aos 16 anos, ingressando no movimento estudantil da Universidade de Concepción.

Nos anos 2000, durante a primeira década do milênio, Cariola emergiu como uma das principais lideranças do movimento estudantil chileno. Ela desempenhou um papel fundamental no auge da mobilização estudantil entre 2006 e 2013, período caracterizado por passeatas massivas e novas lideranças surgindo, incluindo Camila Vallejo, também do Partido Comunista.

Um dos marcos de sua atuação foi sua liderança em negociações que resultaram no congelamento das matrículas universitárias e das mensalidades em 2008, em resposta aos efeitos prejudiciais do na chilena.

Além de sua à causa estudantil, Cariola se destacou por sua atuação em momentos de nacional, como durante o terremoto no Chile, quando mobilizou milhares de voluntários para prestar assistência em áreas afetadas.

Ascensão política

Sua ascensão política continuou com sua eleição para a presidência das juventudes comunistas chilenas, tornando-se uma voz influente na política nacional. Ao longo de seus mandatos como deputada, ela demonstrou um compromisso inequívoco com questões cruciais, como saúde reprodutiva, direitos das mulheres e segurança alimentar.

Nas  legislativas de 2021 , realizadas em 21 de novembro desse mesmo ano, foi reeleita no cargo com a primeira maioria a nível nacional, ultrapassando os 77 mil votos (23,6%), para o período 2022-2026 . Membro das Comissões de Constituição, Saúde e Emergência, Desastres e . Em 15 de março de 2022, foi eleita presidente da Comissão de Constituição, Legislação, Justiça e Regulamentos da Câmara dos Deputados, tornando-se a primeira mulher a ocupar esse cargo.

A liderança de Karol Cariola reflete não apenas seu próprio mérito, mas também o apoio e a confiança da população chilena, especialmente nos distritos onde sua base de apoio é sólida. Sua eleição ocorre em um momento crucial para o Chile, enquanto o país enfrenta desafios políticos e sociais significativos, incluindo o processo constituinte em andamento e as demandas por mudanças estruturais.

Ao assumir a presidência da Câmara dos Deputados, Cariola se compromete a representar e defender os interesses do povo chileno, impulsionando propostas de mudança real e estrutural. Sua ascensão ao cargo de liderança reforça a importância da diversidade política e do engajamento cívico na construção de um futuro para o Chile.

Fonte: Portal Vermelho Capa: Radio UChile

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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