Kotscho: Com grandeza, Lula resgata a alma brasileira

Lula resgata a alma brasileira com grandeza e dá uma lição a seus algozes

“Quero que vocês saiam daqui e retratem que não conversaram com um cidadão alquebrado. Conversaram com um cidadão que tem todos os defeitos que um ser humano pode ter. Mas tem uma coisa que eu não abro mão: dignidade e caráter não tem em shopping, em supermercado e você não aprende na universidade. Vem do berço. E isso eu tenho demais. E não abro mão. Esse é meu patrimônio”

Por: Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia,via brasil247

Se alguém ainda tinha dúvidas, não restou mais nenhuma: está explicado por que a toga e a farda se uniram, com o apoio da grande mídia, para prender e o deixar apodrecer na cadeia, como prometeu Jair Bolsonaro na campanha.

Deixar Lula livre é um perigo para os golpistas civis e militares que estão entregando e destruindo o Brasil.

Só agora consegui terminar de ler a entrevista histórica de Lula, em que ele rompeu o silêncio imposto pela morista, desde que foi preso, há mais de um ano.

Ao final, voltei a ter orgulho de ser brasileiro por saber que nem tudo está perdido.

Mais do que um libelo político contra seus algozes, o ex-presidente, de forma serena e contundente, deu uma aula de bom senso, compromisso e , mais preocupado com os destinos do país do que com ele mesmo.

Me lembrou o velho Lula das greves e dos primórdios do PT: nos momentos mais difíceis, o velho amigo sempre foi, acima de tudo, um pregador da .

Tenho certeza que quem leu ou ouviu este depoimento do preso político, que se tornou um troféu da Lava Jato, ficou mais animado e confiante, mais esperançado e fortalecido na luta para livrar o país dos seus carrascos.

Enganaram-se todos os que pensavam estar Lula politicamente morto após a derrota do PT nas eleições.

“Eles não conseguiram me destruir. O PT não foi destruído. Provou que é o único partido que existe neste país. O resto é sigla de interesses eleitorais em momentos certos. Quem acabou foi o PSDB. Foi dizimado”.

Valeu a pena esperar pelos 130 minutos de que lhe concederam para conversar com dois jornalistas que honram a profissão e lhe perguntaram tudo o que a gente queria saber sobre ele.

Lula e os repórteres Mônica Bergamo, da Folha, e Florestan Fernandes Junior, do El País, protagonizaram um raro momento de dignidade nestes tempos tenebrosos.

“Muita gente achava que eu deveria sair do Brasil, ir para uma embaixada, que eu deveria fugir. E eu tomei como decisão que o meu lugar é aqui no Brasil (…) Eu ficarei preso 100 anos, mas eu não trocarei minha dignidade pela minha liberdade”.

“O senhor já pensou que poderá ficar aqui para sempre?”, perguntaram-lhe os repórteres, lembrando das duas condenações e mais seis acusações em que é réu.

“Não tem problema. Eu tenho certeza que durmo todo dia com a consciência tranquila. E eu tenho certeza que o Moro não dorme, o Dallagnol não dorme (… ) Então, como eu quero viver até os 120 anos, eu vou trabalhar muito para provar a minha inocência e a farsa que foi montada. Montada aqui dentro, montada no departamento de Justiça dos EUA”.

A cada frase fica mais forte o contraste entre o comportamento e o pensamento político de Lula e o dos novos donos do poder, como se fossem habitantes de países diferentes.

Mesmo preso, sem poder se comunicar por telefone ou pela internet, Lula acompanha o que está acontecendo no país e mostra como seria tudo muito diferente se o golpe jurídico-militar não o tivesse impedido de disputar as eleições.

“Um país que não gera emprego, não gera salário, não gera consumo, não gera , quer pegar do aposentado e do velhinho R$ 1 trilhão? O Paulo Guedes precisava criar vergonha. Onde ele fez esse curso de dele?”.

Para Lula, a elite brasileira deveria fazer uma autocrítica depois da eleição do capitão Bolsonaro, que foi expulso dos quarteis e depois virou deputado por 28 anos, sem nunca ter apresentado um único projeto de interesse do país. .

“Vamos fazer uma autocrítica geral nesse país. O que não pode é este país estar governado por esse bando de maluco que governa o país. O país não merece isso e sobretudo o povo não merece isso”.

O inteiro deu destaque e repercutiu a entrevista de Lula, menos a Rede Globo e o jornal O Globo, que mantiveram a censura ao ex-presidente derrubada pelo STF.

Eles têm bons motivos para mostrar medo de Lula. “Eu, por exemplo, tive um ero grave. Eu poderia ter feito a regulamentação dos meios de comunicação. É uma autocrítica que eu faço”, respondeu, ao ser perguntado sobre os erros do seu governo.

Vale a pena ler ou ouvir a entrevista na íntegra. É a melhor forma de voltar a acreditar no Brasil e nos brasileiros.

Ao romper a censura que lhe foi imposta pela juíza Carolina Lebbos, Lula volta à cena política com muita gana para lutar contra as injustiças que sofreu, e avisa:

“Eu tenho muita motivação para estar vivo. Estar vivo e não fazer nenhuma loucura (…) Quero que vocês saiam daqui e retratem que não conversaram com um cidadão alquebrado. Conversaram com um cidadão que tem todos os defeitos que um ser humano pode ter. Mas tem uma coisa que eu não abro mão: dignidade e caráter não tem em shopping, em supermercado e você não aprende na universidade. Vem do berço. E isso eu tenho demais. E não abro mão. Esse é meu patrimônio”, desabafou Lula ao final da conversa com os repórteres.

E, em seguida, o ex-presidente mais admirado pelos brasileiros voltou para a sua cela solitária na Polícia Federal de Curitiba,

E nós continuamos aqui fora sem saber para onde ir, o que fazer para enfrentar essa cruzada bolsonarista, sem norte e sem noção, que se abateu sobre a o país nos últimos quatro meses.

Ao resgatar a alma brasileira com grandeza e equilíbrio, as palavras de Lula podem servir como um divisor de águas quando tudo parecia perdido.

Valeu, Lula.

que segue.

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Fonte: https://www.brasil247.com/pt/colunistas/ricardokotscho/391650/Lula-resgata-a-alma-brasileira-com-grandeza-e-d%C3%A1-uma-li%C3%A7%C3%A3o-a-seus-algozes.htm

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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