Lago Paranoá volta ao seu lugar

Lago Paranoá volta ao seu lugar

Aqueles que pensaram e fizeram Brasília imaginaram um lago que servisse ao equilíbrio climático a ao deleite de sua população, como um bem de todos. Com o , porém, alguns poucos moradores foram se apossando do belo manancial como se fosse deles, e assim, de modo sorrateiro, ele foi furtado, tirado de seu lugar público, levado pro quintal de algumas mansões.

No final de agosto, no entanto, o Governo do Distrito Federal começou a cumprir uma demorada decisão judicial que manda pôr o lago no seu devido lugar, bem juntinho da comunidade. A deu ganho de causa a uma ação do Ministério Público do DF, que foi impetrada há dez anos e percorreu um longo caminho e poderosas pressões. E a maioria dos moradores da capital aplaudiu o início da retirada de muros, cercas, piscinas, píeres e tantas coisas mais.

Em verdade, o Lago Paranoá havia sido previsto pela Missão Cruls, que demarcou os limites do Distrito Federal ainda no século 19. No Relatório Cruls, aprovado pelo e sancionado pelo então presidente Floriano Peixoto, em 1894, foi apontado o local de construção da barragem, no Vão do Paranoá, percorrido e medido pela equipe de Luiz Cruls. O espelho d’água do reservatório deveria ficar na cota de 1.000 metros acima do nível do mar, como de fato ficou.

O local onde Brasília seria construída foi confirmado várias vezes por iniciativas de governos brasileiros, a última das quais foi a Comissão de Localização da Nova Capital, que produziu o Relatório Brecher, em 1955. Em seguida, foi adotado por Lúcio Costa, que ganhou o concurso internacional de projetos da nova capital, e a barragem do Paranoá começou a ser construída em outubro de 1956. O lago já estava cheio quando da inauguração da cidade, em 1960.

ÁREAS PÚBLICAS

O original sempre tratou com cuidado a questão fundiária, dando ao território do DF um sentido muito mais de uso que de propriedade. Os prédios das Asas, por exemplo, não têm terrenos além do seu perímetro. Nas áreas de chácaras, era concedido o direito de uso, não a posse dos módulos.

E nos Lagos Sul e Norte os terrenos das casas correspondem a áreas de dimensões idênticas, consideradas “verdes”, de uso público, em que não se pode edificar, estejam elas próximas ou distantes da orla. Nos lotes que estão próximos da água, além da área verde, é preciso respeitar a distância de mananciais, prevista em lei que vale pra todo o país.

No caso de Brasília, as QLs (quadras-lago) são formadas por ruas fechadas, que sempre terminam no último terreno, chamado de ponta-de-picolé, pelo formato do conjunto. Nos anos 1960 e 1970, muita gente evitava adquirir esses lotes, alegando que a proximidade do lago quebraria a privacidade, por serem áreas públicas. Outros, ao contrário, os compravam porque queriam mesmo era ocupar as margens.

Alguns governos do DF ensaiaram medidas de desocupação das margens, mas, ao longo dos anos, áreas onde havia apenas cercas passaram a ser palcos de edificações e usos variados. Salões de festas, piscinas, garagens de barcos, atracadouros e assim por diante. Muitos até furtam água do lago com a ajuda de bombas, algumas das quais já descobertas e retiradas pela força-tarefa do GDF que está executando a desapropriação da orla.

lago_paranoa_volta_ao_seu_lugar
Fotos: guiabsb.net | rotadesegurança.com.br

PONTÃO E PRAINHA

O Pontão do Lago Sul e a prainha próxima ao Setor de Chácaras Norte são dois exemplos da abertura das margens do lago à comunidade, ambos polêmicos, por razões diferentes. Esta última por não ter estrutura nenhuma, a outra por ter estrutura demais. Ou seja, uma é completamente aberta, descuidada, onde ajunta dentro e fora da água; a outra em verdade virou uma área privada, em terras públicas.

O Pontão foi criado em 1996, pelo então governador Cristovam Buarque (1995/99), com a finalidade de ser um parque público franqueado ao lazer, esportes, atividades culturais e gastronomia. Foram abertas concessões de áreas de restaurantes, lanchonetes e lojas comerciais, com o resto do espaço destinado a piqueniques, rodas de e conversas ou simples desfrute visual.

No entanto, a empresa que hoje controla a parte comercial do Pontão, que é relativamente pequena (3,5% do total), passou a dominar toda a área, chegando ao cúmulo de cobrar dos visitantes por fotografias que venham a tirar. Os guardas da empresa agem como policiais, impedindo qualquer atividade nos espaços verdes ali existentes e controlando a entrada e saída de pessoas em portões com guarita e correntes.

Isso significa dizer que não basta ao GDF derrubar muros, cercas e edificações. É preciso conservar as áreas que forem abertas às margens do lago, com infraestrutura adequada, regras de uso, e assim por diante. Aliás, uma parte dessas áreas havia sido aberta pelo ex-governador José Aparecido de Oliveira (1985/88), que criou calçadas e ciclovia, mas elas foram ocupadas novamente pelos moradores vizinhos, por da autoridade pública.


Salve! Pra você que chegou até aqui, nossa gratidão! Agradecemos especialmente porque sua parceria fortalece  este nosso veículo de comunicação independente, dedicado a garantir um espaço de Resistência pra quem não tem  vez nem voz neste nosso injusto mundo de diferenças e desigualdades. Você pode apoiar nosso trabalho comprando um produto na nossa Loja Xapuri  ou fazendo uma doação de qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Contamos com você! P.S. Segue nosso WhatsApp: 61 9 99611193, caso você queira falar conosco a qualquer hora, a qualquer dia. GRATIDÃO!

PHOTO 2021 02 03 15 06 15


E-Book A Verdade Vencerá – Luiz Inácio Lula da Silva

Em entrevista aos jornalistas Juca Kfouri e Inês Nassif, expressa sua indignação com o massacre sofrido ante a farsa da Lava Jato. Imperdível!

COMPRE AQUI

Capa Lula a verdade 1

 

Deixe seu comentário

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

logo xapuri

REVISTA