A lenda do Maculelê

Atualizada:

Pra quem não conhece, o Maculelê é uma dança afro-indígena de bastões. Comum no interior da Bahia e no Rio de Janeiro, a dança é uma mescla dos ritmos originários das etnias congo-angolanas com elementos da cultura indígena povo Aymoré. Mas como surgiu?

Era uma vez um povo africano, os Cucumbi, que gostava muito de música e de uma dança guerreira com bastões, chamada makélelè, palavra que no idioma quicongo significa algazarra, barulho, vozerio.

Quando vieram da África para trabalhar como escravos nos canaviais brasileiros, os Cucumbi trouxeram com eles essa herança cultural e, desde muito cedo, ensinavam aos filhos sua dança. Foi assim que, na Bahia, um casal de escravos ensinou o filho, a quem chamaram Maculelê, a dançar com bastões desde pequenino.

Mas, como tinha uma doença que o deixava muito triste, aos sete anos de idade, Maculelê resolveu fugir para a floresta, onde seus pais, sem sucesso, tentaram encontrá-lo. Quem o achou foram os índios Aymoré, que o convenceram a ficar escondido na oca do pajé da aldeia deles para se curar da doença.

Por muitos e muitos anos, Maculelê viveu isolado na oca do pajé, até que num dia de sol, quando os guerreiros saíram para caçar e pescar, apareceram uns indígenas rivais para atacar as mulheres e as crianças que haviam ficado na aldeia. Foi então que, num impulso, Maculelê saiu da oca e, com seus bastões de bambu, afugentou os invasores.

Quando os guerreiros voltaram, agradecidos foram à oca do pajé para saudar Maculelê pela bravura. Só então soube que estava curado! Para celebrar, os Aymoré fizeram uma linda festa e pediram a ele para lhes ensinar a lutar com bastões.

Dos movimentos da luta guerreira dos bastões com os ritmos indígenas surgiu uma dança nova. Para homenagear seu herói africano, os Aymoré deram à dança o nome de Maculelê!

Fonte: Africa Brasis, com edições.


 
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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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