Amazônia em Agonia: Seguir Esperneando – Episódio 04
❤️ LIVE SOLIDÁRIA AMAZÔNIA EM AGONIA: Seguir Esperneando – Episódio 04 ⏰ Dia: 27/07, às 21h 📍 Mediadora: Lucélia Santos 🗣️ Participação: 📌 Adriana Ramos – Instituto Socioambiental 📌 Fernando Gabeira – Jornalista. Ambientalista 📌 Suely Araújo – Ex-Presidenta do IBAMA
SEGUIR ESPERNEANDO – O PODCAST DA LUCÉLIA SANTOS
EPISÓDIO 04: AMAZÔNIA EM AGONIA
Lucélia Santos:
A Amazônia está em agonia, suspira asfixiada, a caminho da morte.
O Brasil perdeu o controle do desmatamento. Só agora, neste mês de julho, derrubaram 926 km2 de floresta, o equivalente a três cidades de Fortaleza.
Depois da derrubada, vem o fogo, também totalmente descontrolado. Com mais queimada, tem mais seca, mais fumaça, menos água na floresta.
Sem água, as plantas respiram com dificuldade. Com a respiração afetada, as árvores param de fazer a fotossíntese que transforma CO2 em oxigênio.
A cada ano, esse ciclo de destruição e morte coloca mais gás carbônico na atmosfera. Hoje, especialmente na fronteira sul da floresta, 30% da Amazônia já produz mais carbono do que o oxigênio que consome.
Sem oxigênio, as árvores morrem, as plantas novas não vingam, as sementes não brotam. Sem árvores, a floresta sucumbe, vira pasto de boi, vira roça de soja, vira terra rasa, envenenada.
Sem floresta, o calor aumenta, o ar resseca, a chuva some. Nos últimos 40 anos, o clima aumentou 3,1 graus Celsius e a chuva reduziu 24%. Sem oxigênio, a natureza colapsa.
É isso que está acontecendo.
E, pra completar, chega essa notícia triste da pesquisadora Cynthia Gatti, do Inpe: Neste exato momento, no sudeste da Amazônia, tem mais árvore morrendo do que nascendo.
Nós estamos perdendo a floresta amazônica!
Eu sou Lucélia Santos e você está no “Seguir Esperneando, o meu podcast em parceria com a Revista Xapuri.
Neste episódio, “Amazônia em Agonia”, nós vamos tratar das duas causas principais de extinção da maior floresta tropical do planeta: Desmatamento e Queimadas.
DESMATAMENTO
Duda Meirelles:
Eu sou Duda Meirelles e, assim como a Lucélia Santos, estou indignado com o que está ocorrendo na Amazônia.
O ataque à floresta, nós já sabemos: é um problema crônico, que vem desde a ocupação da Amazônia pela ditadura, nos anos 1970. Mas agora, com esse governo que só pensa na destruição ambiental, a situação fica cada vez mais crítica.
Os números recentes do desmatamento são péssimos, são os piores da década.
Em 11 meses, foram 8.381 km² de derrubadas, uma taxa 51% maior do que do período anterior, de agosto de 2019 a junho de 2020, quando os satélites registraram 5.533 km² de devastação.
E, somente no primeiro semestre de 2021, a Amazônia perdeu uma área de floresta duas vezes maior do que a cidade de São Paulo.
O Pará encabeça a destruição. Sozinho, o Estado responde por 36% das derrubadas. Depois do Pará, vem o Amazonas. Os dois estados correspondem a 61% do desmatamento registrado na Amazônia em junho de 2021.
No Acre, o roubo de madeira nas florestas públicas coloca o estado em situação de emergência. Em Xapuri, o desmatamento avança sem controle sobre a floresta protegida da Reserva Extrativista Chico Mendes.
Isso mostra que a destruição está avançando também sobre as unidades de conservação e as terras indígenas. Em junho, o desmatamento foi de 13% e 2%, respectivamente.
QUEIMADAS
Lucélia Santos:
Essa máquina de moer floresta depende muito de como funciona o clima na Amazônia.
Lá, sobretudo na fronteira sul, que é de onde o Arco do Desmatamento avança para o coração da floresta, a vida se organiza entre duas estações: inverno e verão.
No inverno, conhecido como inverno amazônico, que ocorre entre dezembro e maio, chove muito e os dias ficam nublados. No verão, que vai de junho a novembro, o tempo seca.
No inverno, quando a natureza se embaça de tanta chuva, um formigueiro humano, armado de facões e motosserras, se espalha pela floresta.
São os invasores, os peões da grilagem, a serviço do latifúndio. É nesse tempo das águas que eles derrubam as árvores, muitas árvores, milhares de árvores.
Derrubam no inverno e deixam a madeira secar, pra virar o combustível do fogo que ateiam na secura do verão. Nesse momento, no chão da floresta, tem quase 5 mil km2 de área derrubada só esperando a seca acabar de chegar.
No ritmo que vamos, o Brasil vai passar dos 15 mil km2 de área desmatada antes de fechar o próximo ciclo de derrubadas, em junho de 2022.
Isso quer dizer que a área destruída será muito maior, porque as chamas de um incêndio sempre se esparramam pra muito além do espaço desmatado. E, pra complicar, esse ano ainda tem o fenômeno La Niña, que esturrica a terra e aumenta o poder de fogo das labaredas.
Mas sabe o que é mais sórdido nessa história?
O mais triste é saber que os incêndios sequer ocorrem em áreas já desmatadas, nem vem de acidentes provocados nas pequenas roças de caboclos e indígenas, como costuma acusar certo inominável presidente genocida.
O Carlos Nobre, cientista brasileiro respeitado no mundo inteiro, conta que a maioria das queimadas são em áreas de derrubada recente, “pelo famoso e tradicional processo de expansão da área de agropecuária, 80% das vezes pela ação de grandes propriedades. ”
Ou seja, quem coloca a Amazônia em agonia é a usura do agronegócio, em sua sanha insaciável de expansão da fronteira agrícola.
Quem desmata é o grande, quem queima é o grande. Essa é a lógica perversa da devastação da Amazônia.
Duda Meirelles:
Entendi… É por isso então que o ministro do desmatamento caiu, mas o presidente colocou no lugar um legítimo representante do agronegócio?
É por isso que, antes de cair, o ministro deu um jeito de acabar com as multas que prejudicavam seus amigos madeireiros?
É por isso que a bancada do boi partiu pra cima e conseguiu aprovar na Câmara o PL 490, que abre as terras indígenas, pra a mineração e pro agronegócio?
Lucélia Santos:
Exato! Sem dó nem piedade, esse governo vai passando a boiada, vai acabando com tudo. Mas, muita coisa está passando também, e de baciada, no Congresso Nacional.
O PL 490 está para ser votado no plenário Câmara dos Deputados. Depois, segue para o Senado Federal. O presidente Rodrigo Pacheco prometeu colocar o projeto em discussão nas Comissões da Casa, conforme demanda da sociedade civil. Vamos ver…
Também tramita na Câmara o PL 2633/20, conhecido o PL da Grilagem, porque regulariza as ocupações em terras da União. Esse PL estimula e facilita as invasões de terra, regulariza as áreas griladas, anistia os grileiros, e paralisa a demarcação das terras indígenas e quilombolas.
É assim que acontece!
Em vez de declarar uma moratória para o desmatamento, de recuperar as áreas degradadas e de apoiar os projetos sustentáveis dos povos da floresta, o governo age para agradar sua base aliada no Congresso, acabando com a Amazônia.
Isso tem que parar!
Duda Meirelles:
“Seguir Esperneando” é mais um espaço de resistência da Revista Xapuri, construído em parceria com a atriz e militante Lucélia Santos.
Este episódio, “Amazônia em Agonia”, resulta do esforço coletivo de Agamenon Torres; Ana Paula Sabino; Janaina Faustino; Lucélia Santos; Zezé Weiss; e eu, Duda Meirelles.
O roteiro foi construído com base em informações coletadas nos seguintes veículos: Agência Pública, Amazônia Real, Amazon News Online, MapBiomas, Imazon, Inpe, Instituto Socioambiental e Ipam.
“Seguir Esperneando é patrocinado por: Bancários-DF – Sindicato dosBancários de Brasília; Fenae – Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômmica Federal; Fetec-CUT Centro Norte – Federação dosTrabalhadores em Empresas de Crédito do Cento Norte; e Sinpro/DF –Sindicato dos Professores no Distrito Federal.
Colabore com a Xapuri, comprando um produto em nossa loja solidária:lojaxapuri.info ou fazendo doação de qualquer valor via pix:contato@xapuri.info. Até o próximo epsisódio do “Seguir Esperneando”!
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