Lucinha do MST: militante de uma luta que não cessa
Não baixemos a guarda. Ainda que o capitão Bolsonaro tenha sido derrotado nas urnas, o “bolsonarismo” (denominação criada a partir do “mito” que personificou e deu visibilidade e voz ao fascismo, neonazismo, misoginia, negacionismo, polarização política e tudo mais que levou o país a um retrocesso quase semelhante à chamada “idade das trevas”) segue sibilando no labirinto do Congresso Nacional.
Por Marcos Jorge Dias
Observando o que está acontecendo na Câmara dos Deputados, vemos que a apresentação do Requerimento de Instituição de Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI – n. 3/2023, pelo Deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos/RS) e outros, que a criação de CPI “com a finalidade de investigar a atuação do grupo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), do seu real propósito, assim como dos seus financiadores” tem por objetivo criminalizar as ações do MST, que vão muito além da ocupação de terras improdutivas.
Segundo o site MST, o “Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é um movimento social, de massas, autônomo, que procura articular e organizar os trabalhadores rurais e a sociedade para conquistar a Reforma Agrária e um Projeto Popular para o Brasil”.
O interessante é que “mesmo depois de assentadas, as famílias permanecem organizadas no MST, pois a conquista da terra é apenas o primeiro passo para a realização da Reforma Agrária” e, certamente, objetivos como esses não agradam aos interesses das bancadas do boi e da bala (como são chamados os representantes dos ruralistas e dos militares).
LUCINHA DO MST
Apesar das violentas investidas dos ruralistas, o MST também tem seus guerreiros e guerreiras. Um exemplo é Lucinha Barbosa (49), natural de Eunápolis – BA.
Nascida numa família de 12 irmãos, foi em Itamaraju, sul da Bahia, que aos 15 anos Lucinha teve pela primeira vez contato com o MST. Foi quando participou da segunda ocupação realizada na Bahia, que construiu o Assentamento Bela Vista. Desde então, tem dedicado sua vida à luta do campo.
Mulher guerreira, Lucinha já ocupou diversos cargos de destaque durante seus 30 anos no MST. Após ser dirigente nacional e contribuir na organização do MST por vários anos fazendo trabalho de base do Movimento, se tornou a primeira Secretária de Políticas para Mulheres da Bahia em 2011, e também a primeira Secretária de Estado procedente da militância dos Sem Terra.
Em 2015, assumiu a pasta da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) do governo do estado da Bahia e atualmente é Secretária Nacional de Movimentos Populares do Partido dos Trabalhadores.
COMO O VOAR DOS GANSOS
Lucinha nos faz lembrar que a jornada contínua de lutas do MST nos remete a texto de autoria desconhecida, sobre o voar dos gansos, por vezes usado em reuniões motivacionais:
“Os gansos sempre voam em formação e cooperação. Quando o ganso líder se cansa, muda para trás na formação e, imediatamente, um outro ganso assume o lugar, voando para a posição de ponta”.
O MST se organiza a partir do revezamento das tarefas pesadas e compartilhando os espaços de liderança. “Se tivermos tanta sensibilidade quanto a de um ganso, permaneceremos em formação com aqueles que se dirigem para onde pretendemos ir e nos disporemos a aceitar a sua ajuda, assim como prestar a nossa aos outros”.
Lucinha do MST vem, assim, despontando como uma nova liderança feminina à frente do combate à criminalização do Movimento Sem Terra.
Marcos Jorge Dias – Escritor e poeta acreano. Membro do Conselho Editorial da Revista Xapuri. Foto de capa: Marcos Jorge Dias.