Lula da Silva está preso… para que sirva de exemplo, para que se diga aos deserdados da terra que eles não têm lugar à mesa

A prisão dos Silvas:

Mais um Silva está preso… para que sirva de exemplo, para que se diga aos deserdados da terra que eles não têm lugar à mesa –

Por: Joan Edesson de Oliveira/Portal Vermelho

Um está preso, um homem de sobrenome Silva, um homem do povo que ousou ser líder do povo. Sem direito a visitas, com uma devassa baseada em delações. Mais de duzentos anos depois, as elites novamente querem se vingar do povo e punir um Silva, para que sirva de exemplo, para que se diga aos deserdados da que eles não têm lugar à mesa.

Um homem foi preso. Um homem do povo, de sobrenome Silva, tão comum entre a ralé desse país, sobrenome dos pobres, dos desgraçados, dos marginalizados, sobrenome do povo. Um homem foi preso a mando dos poderosos.

Nunca foi um homem letrado. Como desde sempre em nossa , a pobreza torna-se inimiga da , a necessidade de trabalhar para sobreviver, desde muito cedo, afasta dos bancos escolares. Mas interessou-se sempre por , por social, por soberania nacional.

O império condenou esse homem. O império determinou que ele fosse julgado. O processo contra ele foi construído com base na delação, vil delação em troca de benefícios, de perdão de dívidas. A partir da delação instituiu-se uma devassa contra o homem do povo, de sobrenome Silva. O processo arrastou-se por anos, até que ele fosse condenado.

Para o império, um homem que ousou desafiá-lo, que sonhou em construir um novo, não poderia apenas ser preso e condenado. Era necessário mais do que isso. O homem de sobrenome Silva foi humilhado, tentaram de todas as formas desonrá-lo, sua descendência foi amaldiçoada, sua casa tornada maldita. Condenado, arrastaram-no de um lugar a outro do país, numa execração pública jamais vista.

O homem era um pobre que teve a ousadia de se imaginar líder dos outros pobres, que se colocou à frente deles, que tentou ocupar postos de comando.

O homem de sobrenome Silva dizia que “era pena que um país tão rico como este estivesse reduzido à maior miséria, só porque, como esponja, lhe estivesse chupando toda a substância”. O homem ousou pensar que era possível distribuir, entre os mais miseráveis, uma milésima parte da riqueza que os grandes levavam daqui.

As elites do império e seus lambe botas locais ficaram indignados.

− Onde já se viu isso? Como pode um homem do povo querer assumir o comando das coisas? Ainda mais um pobretão que não estudou, que vive pelas estradas do país e pelos botequins a entornar aguardente com os párias da terra?

A devassa que se instituiu pretendeu, mais do que ao homem de sobrenome Silva, dar uma lição aos pobres da terra. Aos Santos, Costas, Bentos, das Virgens, a todos aqueles que teimavam em rebelar-se contra o seu destino, imposto milenarmente por todos os impérios da terra, o destino de trabalhar, obedecer e ser explorado pelos poderosos.

Era necessário que a lição fosse exemplar, para que doravante nenhum Silva ousasse levantar os e a voz perante os poderosos; para que doravante nenhum Silva sequer sonhasse com uma rebelião popular; para que doravante os Silvas do país aceitassem, resignados, o chicote dos patrões.

Não importava que o processo contra o homem fosse viciado, baseado em delações. Era preciso dar uma lição. Os que conduziram o processo se achavam superiores aos demais, ainda que não passassem de beleguins do império. Imaginavam-se intelectuais cosmopolitas, embora claudicassem na própria .

Como o homem havia se tornado uma ideia, uma ideia de liberdade, uma ideia de soberania, perceberam que não bastava encarcerá-lo. Foram além, e enforcaram o homem de sobrenome Silva, um Zé qualquer, o homem chamado de Joaquim José da Silva Xavier. Esquartejaram seu corpo e expuseram as partes em vários locais. Fizeram, como antes e como depois, uma justiça de espetáculo.

Mais de dois séculos depois parte das nossas elites segue pensando e agindo quase da mesma forma.

Um Silva está preso, um homem de sobrenome Silva, um homem do povo que ousou ser líder do povo. Sem direito a visitas, com uma devassa baseada em delações. Mais de duzentos anos depois, as elites novamente querem se vingar do povo e punir um Silva, para que sirva de exemplo, para que se diga aos deserdados da terra que eles não têm lugar à mesa.

Como há mais de dois séculos, o país se divide, entre os Silvas que lutam por uma pátria justa e fraterna e os que continuam a lamber as botas do império.

lula sb Brasil 247lula.com.br

ANOTE AÍ:

Joan Edesson de Oliveira –  Educador, Mestre em Educação Brasileira pela Federal do Ceará.

Matéria original: http://vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=9109&id_coluna=155

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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