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O maior cuscuz do mundo, no São João de Caruaru

O maior cuscuz do , no São João de Caruaru

Por Sumaia Villela – correspondente da Agência Brasil

No São João de Caruaru, em Pernambuco, um dos dois maiores do país, a celebração da à base de milho, típica dos festejos de junho, é levada à sério pela população. Hoje (11), o Festival de Comidas Gigantes da cidade teve seu ponto alto com a Caminhada do Forró e a distribuição do cuscuz que a organização promete ser “o maior do mundo”.

A concentração da Caminhada do Forró começou às 13h, em frente ao aeroporto em direção ao Alto do Moura. O “maior cuscuz do mundo” foi distribuído às 17h. Foram usados 800 quilos de floco de milho para produzir o alimento. A cuscuzeira, de 4,2 metros, feita sob medida na Feira de Caruaru, precisou de uma escada pra que os funcionários chegassem até a tampa. Para abrir, foi montado um sistema de roldanas.

Como sempre tem alguém posando junto da panela gigante, o utensílio acabou virando ponto turístico. A abertura da tampa é um acontecimento. De cima da plataforma, o idealizador do cuscuz gigante e presidente da União dos Criadores das Comidas Gigantes de Caruaru, José Augusto Soares, joga os flocos para o alto, animado pelo cantor da banda do trio elétrico parado ao lado do ponto de distribuição.

A equipe começa a subir e descer a escada, apressada, levando o cuscuz para a partilha. A multidão batalha por um lugar próximo a grade, de modo a pegar um pote. Como acompanhamento, é servida salsicha ao molho de tomate.

A costureira Josefa Freitas, 66 anos, veio com a família de Toritama, município vizinho de Caruaru. Ela foi uma das primeiras a receber a comida. “A cutura nordestina é o cuscuz, a canjica e a pamonha. É o milho”, disse. O neto dela, Hewerton , de 19 anos, que pela primeira participou do evento, afirmou que a comida é apenas um detalhe para se juntar ao . “O que vale é a farra, a festa.”

Maratona na cozinha

Para deixar tudo pronto, o trabalho começou ontem (10). Eram cerca de três horas da manhã quando o cuscuz foi pra cuscuzeira gigante. A cozinheira, Selma da Silva, 45 anos, revelou que a iguaria não é feita somente na panela grande. Segundo ela, primeiro os flocos de milho são cozidos em recipientes menores, trabalho iniciado às 20h, aproximadamente. Depois, tudo é reunido na estrutura gigante, aguardando a hora de servir.

A equipe da cozinha tem sete pessoas. Maria Selma, que no dia a dia é empregada doméstica, é responsável pelo preparo há nove anos. Já acumulava quase duas décadas de experiência na produção da canjica gigante em sua comunidade, Peladas. “Quem trabalha em casa de família, sabe como é puxado. Você dar conta de sua casa, de onde você trabalha, de filho, marido e, no fim de semana, ainda enfrentar uma coisa dessa. Só gostando muito”, acrescentou. “Ave Maria! É bom demais. Tem pareia não. São João é assim. Tem de ter comida de milho, forró pé de serra. É isso que faz a festa”.

Comidas gigantes

A comida gigante é um costume de Caruaru, iniciado com a pamonha gigante. O cuscuz, feito há 24 anos, foi a segunda iguaria e atualmente são mais de 30 alimentos gigantes feitos durante o mês de junho para o festival.

Idealizador do evento, José Augusto Soares brincou afirmando que a tradição da comida gigante vem da mania de grandeza do povo de Caruaru – que adota o slogan de “maior e melhor São João do mundo”, competindo com o festejo de Campina Grande, na Paraíba – e da do povo do Nordeste.

“O nordestino é assim. Recebe as pessoas em suas casas com aquela fartura. O pessoal tem o prazer e a satisfação de dar com força o alimento para as pessoas”. Para hoje, o cálculo foi de 100 mil visitas.

Bairro

Nesses 24 anos de evento, a festa ficou popular. Dezenas de ônibus estacionam no portal do Alto do Moura trazendo gente de várias cidades pernambucanas. Muitas pessoas aproveitam para trazer seus paredões – equipamento de som potentes instalados nos próprios carros ou em reboques.

O bairro também se desenvolveu com o evento. Os restaurantes se multiplicaram. Muitos são de grande porte. O cardápio é composto de iguarias sertanejas: bode guizado ou assado, buchada e sarapatel. O público mistura trajes contemporâneos do meio urbano, como o boné de aba reta, os óculos coloridos e espalhados, chapéu de vaqueiro ou de palha, camisa quadriculada e a bota. O colorido se completa com as tradicionais bandeirinhas juninas.

O cuscuz também gera renda. Os patrocinadores estão por todos os lados. A visibilidade é garantida com a decoração do cuscuzeiro, repleto de marcas, bonecos, balões e o que mais houver no mercado para garantir que nenhuma imagem saia sem propaganda.

“É uma comida tradicional, mas acho que virou uma coisa tão comercial, exagerada, que acabou perdendo aquele jeito de festa junina”, destacou Cristiano Santos da Silva, 45 anos, do Recife. “Gosto da brincadeira, mas podia dar um limite para a comercial do evento.”


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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