Majur Traytowu Boe Bororo: Primeira Mulher Transexual Cacica

Majur Traytowu, 30 anos, indígena e transexual, se tornou, oficialmente, cacica da Aldeia Apido Paru da Indígena Tadarimana, em Rondonópolis, a 218 km de Cuiabá, há cerca de um mês, após o pai de 79 anos se afastar do cargo por motivos de doença.
Em entrevista ao G1 do Mato Grosso, Majur contou que começou a se descobrir como transexual aos 12 anos e, aos 27 anos, quando a família fundou a Aldeia Apido Paru, ela passou a ajudar o pai nas tomadas de decisões.
“Fui me observando e cheguei a conclusão que sou trans. Meu comportamento, os gostos e também a atração por meninos foi crescendo. Foi então que descobri que nasci em um corpo de homem, mas com espírito de mulher”, relatou.
Na adolescência, a cacica foi convidada a participar de reuniões, eventos e outros assuntos que envolvem a comunidade. Segundo ela, os indígenas sempre aceitaram sua transexualidade.
“Aos 12 anos, foi crescendo a minha vontade de ser uma liderança que pudesse ajudar na do nosso povo. Mesmo o meu pai sendo cacique na Apido Paru tudo passava por mim. Na aldeia, sempre fui aceita pelo povo e isso é bem tranquilo até hoje”, pontuou.
Há 18 anos, a região onde mora não tinha internet, celular ou qualquer outra tecnologia para se conectar ao que estava acontecendo ao redor.
“Naquela época foi muito difícil intermediar o nosso povo com as demais pessoas, mas, mesmo diante dessas dificuldades, nunca desisti”, disse.
Em 2017, Majur concluiu o ensino médio e quase dois anos passou em uma prova em para cursar fisioterapia e antropologia, e no mesmo período também foi aprovada em um processo seletivo para agente de indígena.
“Estava entre ‘a cruz e a espada’. Ou eu me mudava para a cidade fazer faculdade ou ficava para cobrir a vaga de posto de Agente Indígena de Saúde (AIS). Decidi ficar e trabalhar para estar mais perto do povo. Hoje tenho mais de três anos como agente e agora também assumo o posto de cacique da minha aldeia”, contou.
Cacica, oficialmente
Os caciques são escolhidos por votação que, geralmente, acontece a cada dois anos. No entanto, Majur assumiu a liderança da aldeia, oficialmente, logo após o afastamento do pai, sem eleição. Os demais indígenas, segundo ela, aceitaram, sem questionamentos.
“Faz que atuo como ‘cacica’, pois antes do meu pai tomar as decisões, ele passava por mim e eu dava a palavra final. Há um mês, ele ficou doente e tive que me assumir como cacica da aldeia. Todos me deram total liberdade para tomar as decisões das coisas, mesmo sendo  caçula”, explicou.
Majur tem cerca de 20 irmãos por parte de pai e de .
“Hoje me sinto um pouco realizada, não totalmente, mas com essa trajetória até aqui me sinto importante como Majur e como liderança. O plano é continuar com essa luta pelo povo até me realizar por completa. Pretendo fazer medicina, ter uma vida social estável e também criar uma família”, disse.
A Reserva Indígena Tadarimana possui cerca de 800 indígenas divididos em sete aldeias, com área de aproximadamente 10 mil hectares.


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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