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Mangueira: Venceu a História que a História não conta

Mangueira Campeã 2019: Venceu a que a História não conta. Venceu o pobre, a mulher, o negro, o índio. #MarielleVive

Muita emoção nesta tarde de quarta-feira, 6 de março de 2019, quanto falta apenas uma semana para um ano do assassinato de Marielle Franco no dia 14 de março. Dos assassinos e mandantes do extermínio de Marielle, o Estado brasileiro não dá respostas. Da história anônima dos heróis e heroínas do nesses mais de 500 anos de Resistência, a Mangueira deu a resposta e o Brasil que crê na força da luta e da Resistência agradece. #Marielle Vive! #LulaLivre

Veja a letra do samba-enredo que lavou a nossa

Brasil, meu nego deixa eu te contar
A história que a história não conta
O avesso do mesmo lugar
Na luta é que a gente se encontra
Brasil, meu dengo a Mangueira chegou
Com versos que o livrou apagou
Desde 1500
Tem mais invasão
Do que descobrimento
Tem sangue retinto pisado
Atrás do herói emoldurado
Mulheres, Tamoios, Mulatos
Eu quero um país que não tá no retrato
Brasil, o teu nome é Dandara
A tua cara é de Cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel
A liberdade
É um dragão no mar de Aracati
Salve os caboclos de julho
Quem foi de aço nos anos de chumbo
Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, Malês
Mangueira, tira a poeira dos porões
Ô, abre alas
Pros seus heróis de barracões
Dos brasis que se faz um país de Lecis, Jamelões
(São verde e rosa as multidões)

Composição de Deivid Domênico em parceria com Tomaz Miranda, Mama, Marcio Bola, Ronie Oliveira e Danilo Firmino.

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RJ – 2019/RIO/MANGUEIRA – GERAL – Desfile da Escola de Samba Mangueira, sexta agremiação a entrar na avenida pelo Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro 2019, no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, na capital fluminense, na madrugada desta terça-feira (5). 05/03/2019 – Foto: DIEGO MARANHÃO/AM PRESS & IMAGES/ESTADÃO CONTEÚDO

 


 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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