Quem matou Marielle Franco?

Quem matou Marielle Franco? Cairá este crime bárbaro na vala comum da impunidade?

 “Quanto mais demorar, menor a probabilidade de que o crime seja resolvido” – Ignacio Cano 

Quem matou Marielle Franco? É a pergunta feita por milhões de pessoas no Brasil e no mundo inteiro. Duas semanas depois do brutal assassinato da vereadora e ativista negra, as autoridades não forneceram pistas. Considerando o alto grau de impunidade no Rio de Janeiro, cerca de 92% dos homicídios no Rio ficam impunes, teme-se um “esquecimento” também da morte de Marielle Franco. O assunto é tratado na matéria que se segue, publicada também no Portal Geledés.

Texto do Jornal do Brasil

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Foto: Mídia Ninja

O silêncio oficial sobre este crime que chocou o começa a preocupar diante dos altos níveis de impunidade no país.
Até o momento, não houve prisão nem autores publicamente identificados. As investigações, conduzidas pela Polícia Civil do Rio, ocorrem sob estrito sigilo.
“Sabemos que este não é um crime fácil e que as autoridades não podem divulgar certos detalhes para evitar prejudicar a investigação, mas estamos muito preocupados porque estamos entrando na segunda semana e não há resposta”, adverte Ignacio Cano, especialista em da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Ao recordar que 92% dos homicídios no Rio ficam impunes, Cano acredita que “quanto mais demorar, menor a probabilidade de que o crime seja resolvido”.
O que se sabe até agora é praticamente o mesmo que quinze dias atrás: que Marielle Franco foi atingida por quatro tiros na cabeça na noite de 14 de março no centro do Rio, quando voltava para casa de carro depois de participar de um evento de mulheres negras.
Treze tiros foram disparados de outro veículo a apenas dois metros de distância e todos foram direcionados para o local onde estava sentada a vereadora de 38 anos do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), embora tenham acabado matando o motorista, Anderson Gomes, e atingindo uma assessora de Marielle.
“Por enquanto, as investigaçoes seguem em andamento. Não há informações adicionais para serem divulgadas”, declarou à AFP a assessoria de imprensa da Polícia Civil.
As escassas notícias do caso foram reveladas pela imprensa e apontam para um crime premeditado e realizado por profissionais.
Aparentemente, o veículo da vereadora foi seguido por dois carros com placas clonadas. A TV Globo fez outra revelação ainda mais séria, agora investigada pelas autoridades: as balas usadas aparentemente pertenciam a um lote comprado pela Polícia Federal, que poderia ter sido desviado para redes de tráfico de armas.
Milícias, traficantes?
O assassinato de Marielle ocorreu, paradoxalmente, quase um mês depois que os militares assumiram o comando da do Rio de Janeiro por meio de uma polêmica intervenção decretada pelo presidente Michel Temer.
O crime chocou pelo ‘timing’ e pelo cargo político ocupado pela vítima, mas não só por isso.
Marielle era um símbolo de esperança e de renovação : uma mulher negra criada na favela que conseguiu estudar na universidade, que defendia a igualdade racial e de gênero, e que não hesitava em denunciar os abusos policiais ou a intervenção militar.
Em 2008, participou de uma comissão parlamentar com o deputado estadual Marcelo Freixo que desmascarou as ​​milícias atuantes na cidade.
Freixo, mentor de Marielle e várias vezes ameaçado de morte por milicianos, vê uma clara “mensagem” em seu assassinato.
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Mas quem estaria interessado em matá-la?
Uma das hipóteses mais citadas é a de milícias integradas principalmente por ex-policiais ou policiais corruptos. Fora eles, os únicos que poderiam ostentar tal grau de profissionalismo são as grandes facções criminosas que impõem sua ordem nas favelas ou grupos dentro das forças de segurança.
A companheira da vereadora, Mônica Benicio, exigiu na última quinta-feira em um ato na Câmara Municipal: “As autoridades brasileiras não devem explicações apenas a mim, devem ao mundo respeito e uma explicação sobre o que aconteceu”.
A Anistia Internacional lançou uma ação para que os cidadãos exijam coletivamente uma investigação “urgente, completa e imparcial” que identifique os “atiradores” e seus autores intelectuais.
Pode haver um encobrimento por trás do silêncio oficial?
 
“O silêncio é contraproducente, a exige transparência. A gente precisa saber se a investigação está evoluindo, precisamos saber se está chegando perto dos responsáveis.
A polícia não goza da confiança da população. Precisamos de um olhar externo como do Ministério Público”, acredita Jurema Werneck, diretora da Anistia no .
E a ativista diz que se há silêncio das autoridades, não pode haver silêncio nas ruas.
“Esse foi um ataque político muito forte, se ficar impune, a ideia é que todo mundo corre o risco de ser assassinado impunemente no Brasil”, conclui Ignacio Cano.
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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