Cerrado

11 de setembro: Dia Nacional do Cerrado

11 de setembro: Dia Nacional do Cerrado

Talvez o 11 de setembro esteja registrado em sua memória como o dia do ataque às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, ou ao golpe militar no Chile. Sim! Foram episódios que marcaram a mundial. Mas, desde 2003, a data ganhou mais um significado, diferente dos anteriores, com tons de , principalmente para aqueles e aquelas que lutam pela conservação da savana mais biodiversa do planeta. É em 11 de setembro que celebramos o Dia Nacional do Cerrado.

Muitos imaginam que a data faz referência ao período de floração do ipê amarelo, símbolo da região, ou mesmo à época em que os cerratenses, cheios de expectativas para a chegada da temporada das chuvas, contemplam lindas paisagens típicas do final da seca. E eles estão certos. Todos esses significados permeiam o contexto da criação desse dia que ocorreu durante o III Encontro e Feira dos do Cerrado, realizado em Goiânia, pela Rede Cerrado, de 11 a 15 de setembro de 2003.

Mas o que poucos sabem é que a data escolhida para, todos os anos, comemorarmos o Dia Nacional do Cerrado está relacionada com um dos fundadores da Rede Cerrado: 11 de setembro também é a data de nascimento de Ary José de Oliveira, imortalizado como Ary Para-Raios. Artista de teatro que, por opção, dedicou-se, essencialmente, aos espetáculos de rua, ele foi um defensor incansável das causas socioambientais do Cerrado. Nascido em Sertanópolis, no Paraná, Ary mudou-se para na década de 1970. Naquela época o Cerrado já sofria as consequências perversas do avanço indiscriminado do agronegócio

O CERRADO ESTÁ AMEAÇADO!

Conhecido como o “berço das águas” ou a “caixa d’água do Brasil”, o Cerrado abriga oito das doze regiões hidrográficas brasileiras e abastece seis das oito grandes bacias hidrográficas do país (Amazônica, Araguaia/Tocantins, Atlântico Norte/Nordeste, São Francisco, Atlântico Leste e Paraná/Paraguai). Ele ocupa 24% do território nacional e concentra 5% de toda a do mundo. Presente nos estados de Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Bahia, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, São Paulo, Paraná, Rondônia, além do Distrito Federal, abriga mais de 1.300 municípios onde vivem cerca de 25 milhões de pessoas.

Mesmo com essa relevância para a manutenção dos ecossistemas, o Cerrado está sendo rapidamente substituído por extensas áreas de monoculturas e pecuária. A devastação da cobertura vegetal do Bioma, fundamental para garantir os fluxos hídricos entre as diversas regiões do Brasil, já chega a 52%. Ou seja, mais da metade do Cerrado não existe mais e isso compromete nascentes, rios, riachos e seus povos. Crises hídricas, como as que vêm afetando várias regiões do país, estão relacionadas com essa devastação, uma vez que o Cerrado é o responsável por transportar a umidade e o vapor d’água da bacia amazônica para as regiões Sul e Sudeste do Brasil, permitindo a regularidade do regime de chuvas.

Recentemente, o Ministério do Meio Ambiente divulgou dados nada animadores para o Cerrado. De acordo com a pasta, mais de 14 mil quilômetros quadrados do Bioma foram desmatados entre 2016 e 2017, o equivalente a 1,4 milhão de campos de futebol. A pecuária extensiva e monoculturas, principalmente de soja, eucalipto, cana-de-açúcar e algodão, são as principais causas do seu desmatamento. Políticas de focadas somente em alguns , como a Amazônia, o Pantanal e a , e brechas na legislação, principalmente no Código Florestal, contribuíram, por exemplo, para que o desmatamento do Cerrado superasse, em proporção, o amazônico.

Segundo dados do MapBiomas, o Cerrado é o segundo bioma que mais perdeu vegetação nativa de 1985 a 2017, e a maior expansão agropecuária nesses anos se deu na Amazônia (35.9 Mha), seguido pelo Cerrado (21 Mha).

Por isso, a Campanha Nacional Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida está coletando assinaturas para que o Cerrado e a se tornem também patrimônios nacionais. (Para saber mais sobre a campanha e assinar a petição acesse: semcerrado.org.br).

POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS: OS GUARDIÕES DO CERRADO

Os povos e as comunidades tradicionais são a representação da nossa sociobiodiversidade enquanto conhecedores e guardiões do patrimônio ecológico, genético e cultural da região.

São mais de 80 etnias indígenas que vivem no Cerrado, além de , extrativistas, geraizeiros, vazanteiros, quebradeiras de coco, pescadores artesanais, fundo e fecho de pasto, veredeiros, caatingueiros e apanhadores de flores sempre-vivas.

Esses povos de cultura ancestral têm em seus modos de vida importantes aliados na conservação dos ecossistemas, pois formam paisagens produtivas que proporcionam a continuidade dos serviços ambientais prestados pelo Cerrado, como a manutenção da biodiversidade e dos ciclos hidrológicos.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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