Memória de uma infância na floresta: “Minha mãe me ensinou a ler e fazer contas nas noites sob a luz da lamparina” –
Por: Pedro César Batista
Vivi até os 7 anos em uma casa de taipa, dentro da floresta, distante mais de 20 km da cidade mais próxima.
Minha mãe me ensinou a ler e fazer contas nas noites sob a luz da lamparina. A maior alegria era quando meu pai trazia refrigerante grapette ou guaraná garoto.
Nosso fogão era a lenha, onde se assava pacas, tatus, viados e cotias. Sempre estava em brasa. No pequeno riacho, com suas límpidas águas, recebíamos da natureza a garantia de ter água para beber ou banhar.
Ali passava boa parte do tempo pescando lambaris, quando não estava correndo atrás de bichos, brincando com meu carneiro ou subindo em árvores, saboreando cajus de todos os tipos, cores e cheiros.
Na noite, adorava contar estrelas, vê-las caindo no infinito. O tempo passou. O mundo novo chegou, em todos os lados há eletricidade e crianças convivendo com celulares e luzes artificiais. Criança sempre acreditei em Matinta Pereira e Curupira, minha diversão era garantida ao ouvir estórias nas noites enluaradas.
Agora resta a desilusão, com tantas mentiras se tornando verdades para crianças e adultos. Com minha mãe, meu pai e meu irmão vivemos um bom tempo na floresta, que deixou seus cheiros e sons marcados em minha alma, sempre me fazendo recordar os roncos da onça, o barulho da ventania, o som das árvores cantando na madrugada e o inconfundível perfume de terra molhada nas manhãs.
