Mercúrio e Chumbo nas águas do Rio Paraopeba

MERCÚRIO E CHUMBO NAS ÁGUAS DO RIO PARAOPEBA

Mercúrio e Chumbo nas águas do Rio Paraopeba

Análises confirmam contaminação do Rio Paraopeba por metais pesados. Foram encontrados chumbo e mercúrio  num total 21 vezes ao limite permitido pelas normas ambientais

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Análise apontou morte do Rio Paraopeba, que foi afetado pelos rejeitos do rompimento da barragem em Brumadinho — Foto: Gaspar Nobrega/SOS Mata Atlântica
Uma alta concentração de metais pesados no Rio Paraopeba, após o rompimentos da barragem de rejeitos de minérios B1 do Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A contaminação foi confirmada em boletim divulgado pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) sobre o monitoramento da qualidade da água do rio, realizado pelo órgão, juntamente com Agência Nacional de Águas (ANA), Serviço Geológico do Brasil (CPMR) e a Copasa, desde o desastre, ocorrido sexta-feira passada.

Foram verificadas as maiores concentrações de chumbo total e mercúrio total no Rio Paraopeba – 21 vezes maior do que o limite permitido pelas normas ambientais. Também foram constadas a presença no rio de outros metais como níquel, cádmio e cinco, acima dos valores que podem ser tolerados.

Nesta quinta-feira, o Governo do Estado divulgou nota oficial,informando que, devido aos “resultados iniciais” do monitoramento realizado no Rio Paraopeba, após o rompimento da barragem de rejeitos de minério da Vale, a água do manancial “apresenta riscos à saúde humana e animal”.

O Governo Estadual informou ainda que, diante dos resultados e, “por segurança à população”, os órgãos responsáveis pelo monitoramento “não indicam a utilização da água bruta do Rio Paraopeba para qualquer finalidade, até que a situação seja normalizada. Deve ser respeitada uma área de 100 metros das margens.”.

“O contato eventual não causa risco de morte. E para os bombeiros, que têm trabalhado em contato mais direto com o solo, a orientação da Saúde é para que utilizem todos os equipamentos de segurança”, orienta a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).

A Agência Nacional de Águas informou que, também por meio de nota, que no monitoramento realizado pelo IGAM, após o desastre de Brumadinho, “evidenciou a presença de metais em concentração superiores àquelas estabelecidas nas regras de enquadramento do rio”.

De acordo com o último boletim do IGAM, divulgado quarta-feira à noite, foram observadas maiores concentrações de chumbo total e mercúrio total na estação de captação da Copasa em Brumadinho (a 19,7 quilômetros da barragem) e em outro ponto, Fecho do Funil (a 24,2 quilômetros do local do desastre), no sábado, dia posterior à tragédia. As concentrações dos dois metais constadas foram “21 vezes o valor do limite de classe”, diz o resultado da análise feita pelo Instituto.

Por outro lado, a Agencia Nacional de Águas informou que a análise feita pelas entidades estaduais e federais que monitoram a qualidade da água no Rio Paraopeba “aponta o decaimento da concentração” dos metais pesados no manancial . Lembra que “comportamento semelhante foi apurado no Rio Doce, por ocasião do rompimento da barragem de rejeitos de Fundão, em Mariana, em 5 de novembro de 2015.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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