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Meu amigo Chico Mendes

Meu amigo Chico Mendes

Todo ano, quando chega essa época, eu me lembro muito do Chico e todo ano eu penso nele de uma forma diferente…

Por Lucélia Santos

Agora, eu estou pensando que o Chico, neste momento, estaria celebrando a vitória do Lula. Os dois eram amigos, eram da mesma geração, tinham praticamente a mesma idade, acho que com um ano de diferença.

Eu penso que a Amazônia seria outra se o Chico estivesse aqui entre nós, se ele tivesse sobrevivido àquela violência que ele sofreu, tendo sido assassinado de maneira tão precoce, tão extemporânea.

Certamente a floresta não estaria sofrendo tudo o que está sofrendo, não estaria havendo tanta derrubada das árvores, tantas queimadas, tanto sofrimento dos seres da floresta, dos bichos, da fauna, da flora, da economia local, das populações extrativistas, nossos amigos, nossas amigas, nossa companheirada toda.

Todo ano, quando chega este momento, aperta uma saudade muito, muito grande do Chico Mendes. Uma saudade muito forte do companheiro, do lutador, do guerreiro, do orientador, do líder, da boa prosa, do carisma, da integridade e, sobretudo, dentre todas as coisas, de sua humanidade e do conhecimento profundo que o Chico tinha da floresta e dos seres da floresta.

Da estrela que você hoje habita, Chico, por favor, nos mande muita energia positiva pra que a gente possa sair deste caos em que o Brasil se meteu. Axé!

Lucélia SantosAtriz, conselheira da Revista Xapuri, amiga de Chico Mendes e militante das causas da floresta, da cultura e dos direitos humanos.

https://xapuri.info/vinganca-transversa-ou-perseguicao-cruzada-metodo-do-lawfare/

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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