MINISTRA VERA LÚCIA: MULHER NEGRA, FAZENDO HISTÓRIA 

Ministra Vera Lúcia Santana de Araújo: Mulher Negra, fazendo história

No dia 6 do mês de fevereiro de 2024 nossa queridíssima Vera Lúcia tomou posse como Ministra Substituta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

Por Iêda Leal 

Não posso deixar de parabenizá-la e celebrar junto a conquista de uma mulher negra, plena em sua potencialidade, ocupando este espaço.

Vera Lúcia, que já atuou em diversas instituições, incluindo o Conselho Penitenciário do Distrito Federal e a Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, é a personificação inspiradora da continuidade da luta pela democracia e pela inspiração do nosso povo.

São momentos contínuos de resiliência, de uma jornada que não se inicia hoje e não acabará amanhã. Estamos fazendo história, construindo e dando continuidade ao legado de Lélia Gonzalez, Carolina Maria de Jesus, Antonieta de Barros, Tia Ciata, Maria Firmina, Maria Felipa, Tereza de Benguela, entre tantas outras mulheres negras que contribuíram para este momento. 

Parabéns, Vera Lúcia Santana Araújo, ministra negra, nossa ministra! Todas nós nos emocionamos e nos orgulhamos dessa conquista.

ieda lealIêda Leal Secretária de Combate ao Racismo da CNTE; Secretária de Comunicação da CUT-GO; Tesoureira do SINTEGO; Coordenadora Nacional do Movimento Negro Brasileiro. Foto: Divulgação/ Alma Preta.

 

Ministra Vera Lúcia Santana Araújo

Ministra Vera Lúcia Santa Araújo

Nome completo: Vera Lúcia Santana Araújo

Nascimento: Livramento de Nossa Senhora/BA

Origem: Classe dos(as) Advogados(as)

Posse como ministra substituta do TSE: 6.2.2024

O histórico contempla somente a atual situação, sem referência às atuações anteriores das ministras e dos ministros na Corte, registrando-se as datas a partir de suas posses como membras substitutas e membros substitutos.

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Para Vera Lúcia é necessário insurgência diária para combater as desigualdades e preconceitos contra o povo negro

 
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Ministra do TSE Vera Lúcia| Crédito: Foto: Emanuelle Sena/AscomAGU

A ministra substituta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Vera Lúcia Santana Araújo afirma que ocupar o cargo não se trata de simplesmente de representatividade mas, sim, da efetividade da participação da população negra do Brasil em espaços de poder. “Não é uma mera representatividade, é a efetividade da nossa presença nesses espaços”, disse.
“Falamos em representatividade e acaba remetendo um pouco ao caráter simbólico, que não pode ser só simbólico. Não é representatividade, é efetividade da participação de toda gente brasileira, até porque nós negras e negros somos a maioria do povo”, apontou a Vera Lúcia, nomeada em 2023, pelo presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para ser ministra substitutiva do TSE.
A fala da ministra ao Brasil de Fato DF ocorreu logo após a aula magna do programa Esperança Garcia, curso preparatório para carreiras da advocacia pública direcionado às pessoas negras, realizado nesta segunda-feira (1), no Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Na ocasião, Vera Lúcia também pontuou que é a militância e o movimento negro que podem auxiliar na mudança de um cenário jurídico, um espaço ainda majoritariamente branco.
“Não é só a polícia que nos mata na rua, os órgãos de controle igualmente operam com um rigor que não é aplicado a gestores brancos”, enfatizou Vera Lúcia no evento.
Vera Lúcia é a segunda mulher negra a integrar a Corte Eleitoral do país. Para ela, é fundamental a mobilização social para implementar e garantir a efetividade dos direitos e políticas públicas voltados à população negra.
Com trajetória no movimento negro e integrante da Frente de Mulheres Negras do Distrito Federal, a ministra observa que em um Estado promotor da desigualdade como o Brasil ainda é, a prática da insurgência – como a militância e ativismo negro – como compromissos diários, é essencial. Somente o aparato normativo não dará conta da igualdade racial. 
“A insurgência é um fazer ativo, proativo, provocador, reivindicatório, articulador de todos os sistemas institucionais, de denúncias e de uso legítimo de todos os mecanismos que a gente tem de combate às desigualdades e de denúncia dos preconceitos que são excludentes. Então, é essa insurgência que eu acho que nos mobiliza”, disse em entrevista ao Brasil de Fato DF

Programa Esperança Garcia

A aula inaugural deu início ao Programa Esperança Garcia, uma iniciativa criada pelo Instituto de Referência Negra Peregum, a partir de chamamento público da Advocacia Geral da União (AGU) e Ministério da Igualdade Racial (MIR). Mais de três mil pessoas negras se inscreveram no programa que visa colaborar para um sistema de Justiça mais democrático, equânime e comprometido com a luta antirracista.

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Aula Magna com a participação da ministra do TSE Vera Lúcia / Foto: Rafaela Ferreira

Embora na população brasileira negros e negras representem 56% das pessoas, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no âmbito da Advocacia Geral da União (AGU), 44% dos membros são homens brancos. Já as mulheres negras respondem por apenas 6% do quadro. 
Para Vera Lúcia, quando o Instituto constrói um programa dessa natureza, é possível perceber o nível da maturidade do movimento negro que comumente não é observado. 
“Temos demandas ainda tão gigantescas, como os níveis de exclusão e de miserabilidade, a questão da segurança pública, a violência do Estado, polícias bestiais que vitimam, destroem nossas família. São coisas tão fortes que perdemos muito da dimensão da capacidade que o movimento negro vem desenvolvendo ao longo dos anos, que se materializa em um evento dessa natureza, com esse nível de alcance”, disse a Ministra.

Editado por: Flavia Quirino
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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