Mistério da Natureza: Água e Gordura

Mistério da : Água e Gordura

Por Zezé Weiss

É certo que aqui em Goiás, onde fica a sede da , e onde moramos nós que a fazemos, não há desertos nem camelos. Mas também é certo que o ciclo de chuvas tem mudado muito, que esse ano quase não choveu, e que  mesmo ainda havendo muito desperdício, já tem gente como nós que começa a se preocupar com as consequências de um sem água.

Da mesma forma, nesse Goiás ampliado que tem, segundo o Inpa, o céu mais limpo do , e que inclui também o céu azulíssimo de , já começamos a enfrentar manchas de (basta subir o balão do Torto, pela manhã, para ver o quanto de poluição já há no céu candango ali pros lados de Taguatinga) os sinais de evidentes de um ar poluído e rarefeito, danoso à saúde humana, exige de nós cerratenses consciência e ação.

Foi pensando nisso que, folheando livros aqui na roça num domingo de tarde, encontramos este belo texto – “Água e gordura, no livro da Clarice Lispector, Só para Mulheres: Conselhos, Receitas e Segredos, organizado por Aparecida Maria Nunes, Editora Rocco, 2006,  que fala exatamente sobre a essencialidade do ar e da água para a vida no planeta, e no curioso fato de que, sob circunstâncias especiais, os corpos vivos transformam gordura em água. Confira:

O ar e água são os mais essenciais ao nosso organismo. Pode-se viver trinta dias, ou até mais, sem nenhum alimento sólido; mas, morre-se em poucos minutos de falta de ar e em poucos dias de falta de água.

Os líquidos orgânicos têm um mínimo de 90% de água e até os ossos, cujo tecido é o mais duro do organismo, contêm 40% de água. Assim, como os tecidos do nosso são constituídos de água, podemos dizer que nossa vida depende do equilíbrio líquido no corpo.

A capacidade que temos de fabricar água constitui um curioso fato fisiológico. Como exemplo, pode-se citar o camelo, cuja giba é composta, principalmente, de gordura. Essa giba, a Natureza não a colocou no lombo para enfeite, ou para fornecer um celim natural aos que o montam.

Composta em grande parte de gordura, ela serve como depósito de água para esse nativo do deserto. Cem quilos de giba do camelo lhe proporcionam mais cem de água, pode-se dizer pois que o camelo faz a sua reserva de água sob a forma de gordura.

O mesmo se dá no corpo humano. Se uma pessoa ficar um certo sem comer nem beber, parte de seus tecidos se transformam em água, pois esses a obtêm, não só de líquidos, com também dos alimentos ingeridos.

Dez quilos de gordura produzem, ao destruir-se,  cerca de 10 litros de água. Isso porque o hidrogênio da gordura tom oxigênio do sangue para formar a água. E para as bebidas alcoólicas a proporção é ainda maior: de dez litros de álcool, o organismo obtém onze de água. Por isso, os que bebem muito ficam gordos e balofos.

Um fenômeno interessante é que, quando se acumula gordura no organismo, o armazenamento de água que resulta é muito pequeno. Assim, quando uma pessoa come quantidade considerável de alimentos gordurosos, perde parte da água acumulada nos tecidos (desidrata-se), de maneira que, se basearmos pelo que a balança marca, parece ter perdido peso.

Mas, naturalmente, existe um abismo de diferença entre a perda de peso por desidratação e a perda de peso por destruição da gordura.”

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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