Mudanças climáticas

Mudanças Climáticas: Por que imagens sem seres humanos não são as mais adequadas para ilustrar as causas do aquecimento global

Mudanças Climáticas: Por que imagens sem seres humanos não são as mais adequadas para ilustrar as causas do aquecimento global

Agora feche os olhos e tente imaginar a mudança climática – uma das crises mais prementes de nossa geração. O que vem à sua mente? Fumaça saindo de usinas de energia? Painéis solares? Um urso polar desnutrido? Isso é problemático, diz o psicólogo Adam Corner, diretor da Climate Visuals, organização que tem como objetivo revitalizar a linguagem visual da mudança climática. “Imagens sem pessoas são incapazes de contar uma humana”, avalia. E essas imagens que povoam o imaginário popular podem ser grande parte do motivo pelo qual tão pouca gente está priorizando a ação climática.

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AULIA ERLANGGA/CIFOR | … comparadas a uma fotografia como esta, que revela o impacto humano e local da poluição

A mudança climática tem um problema de representação inerente. Embora você consiga visualizar claramente a poluição por plástico ou o , a mudança climática é menos óbvia: os gases que causam o , como o dióxido de carbono e o metano, são incolores. Além disso, seus impactos demoram a aparecer e nem sempre são visualmente impressionantes.

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GETTY IMAGES | Como a maioria das pessoas não está familiarizada com a aparência dos corais, estudos mostram que uma imagem como esta, de branqueamento de corais, tem menos impacto…

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NPS | … do que uma foto como esta, que mostra uma pessoa real fazendo pesquisas sobre o impacto das mudanças climáticas em um coral

Na década de 1990, jornalistas, políticos e outros formadores de opinião começaram a usar um tipo de imagem que nos ajudaria a entender a situação. Mas que agora precisa ser renovada.

Por um lado, os impactos climáticos hoje são mais evidentes: basta tomar como base a frequência dos incêndios florestais, das inundações costeiras, das secas e ondas de calor. Além disso, para o público em geral, as imagens “tradicionais” não são tão atraentes, o que reforça a necessidade de modernizar sua linguagem visual.

Ao questionar se haveria uma maneira melhor de contar a história da mudança climática, a Climate Visuals testou o efeito que imagens simbólicas sobre o clima – como a de um urso polar debilitado vagando por uma pequena calota de gelo – realmente tinham.

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GETTY IMAGES | Embora emblemática, a imagem de um que a maioria das pessoas nunca viu, vivendo em um lugar onde nunca esteve, pode não ser tão eficaz…

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SGT BILL HUNTINGTON | … como esta foto da busca por sobreviventes do Furacão Katrina, que ilustra o impacto da mudança climática em um ambiente mais fácil de reconhecer

Após uma pesquisa que envolveu a participação de grupos em Londres e Berlim e um questionário online com mais de três mil pessoas, a equipe concluiu que simpatizamos mais com imagens de rostos reais – como instalando painéis solares, equipes de resgate ajudando vítimas de furacões ou agricultores construindo sistemas de irrigação mais eficientes para combater a seca.

Também ajudou quando as fotografias exibiam paisagens locais ou familiares ao espectador, e quando ilustravam impactos emocionalmente poderosos da mudança climática. Além disso, os participantes do foram céticos em relação a fotos “encenadas” e com a presença de políticos.

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GETTY IMAGES | Os pesquisadores perceberam que imagens como esta geralmente não causam tanto impacto no espectador…

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DENNIS SCHROEDER / NREL | … como esta, considerada intrigante e que motivou os participantes a querer saber mais sobre energia solar

 

A missão da Climate Visuals não é totalmente nova. Por mais de uma década, acadêmicos analisaram a forma como ONGs e governos representaram a mudança climática visualmente, avaliaram como o público reage a diferentes tipos de imagens e apresentaram novas abordagens. A , neste caso, está na criação da maior biblioteca de imagens climáticas do mundo com base nas lições aprendidas.

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GETTY IMAGES | Os estudos mostram ainda que uma foto como esta, que destaca um comportamento individual, pode gerar uma reação defensiva no espectador…

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QILAI SHEN / PANOS PICTURES | … enquanto uma imagem impressionante como esta, que ilustra a produção de carne com alto teor de emissões em larga escala, foi mais eficaz

E, para o bem ou para o mal, não é mais difícil encontrar fotografias com viés humano sobre as consequências da mudança climática. “As histórias que precisamos contar estão ao nosso redor de uma forma que não se encontravam há 20 anos, quando o urso polar se tornou um ícone”, diz Corner.

ANOTE AÍ:

Leia a versão original desta reportagem (em Inglês) no site BBC Future.

Fonte: BBC Brasil

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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