Mulheres Marajoara
O Marajó é terra de águas, de florestas e, sobretudo, de mulheres fortes. Compartilho com vocês um rasgo das histórias de Jaci, Leida, Lidiana e Sassá, mulheres guerreiras do meu Marajó, escritas por elas mesmas.
Por Edel Moraes
Jaci
Sou Jaci Garcia, militante do coletivo “Manos & Manas Marajoaras – Entre Linhas, Laços e Nós”, e minha luta é para diminuir a violência sofrida por meninas e mulheres do Marajó. No meu entender, não basta somente educar os meninos para respeitarem as meninas; é preciso, também, ensinar as meninas a crescerem com o desejo vivo de liberdade dentro de si, e essa liberdade vem junto com a independência financeira e emocional .A mulher dependente financeira ou emocionalmente é aquela que já não pode escolher as próprias roupas; a religião; se corta o cabelo ou não; se quer ou não casar ou ter filhos; se estuda ou trabalha fora…
Com o projeto “Manas Marajoaras”, realizamos oficinas de artesanato, biojoias, crochê e macramê; incentivamos o empreendedorismo e praticamos, pela “sabença”, a valorização dos saberes herdados e o empoderamento das mulheres, para que elas possam se tornar conscientes dos seus direitos. Em rodas de conversas, incentivamos a troca de valores; criamos laços afetivos, para que nossas mulheres possam identificar o que as incomoda, o que as limita, e, assim, possam dizer: NÃO!
Leida
Sou Leida Maria, mulher marajoara, extrativista, sou luta e resistência dentro do meu território. Moro em um projeto de Assentamento chamado PAE Ilha São João II, que é onde mantenho minha relação com a natureza, de onde tiro meu sustento e o dos meus filhos e onde cuido para preservar e manter a floresta de pé.
Faço parte da Cooperativa Agroextrativista do Rio Pagão (COPA), uma organização que busca fortalecer a luta e criar subsídios para a nossa permanência dentro do território, uma vez que, apesar da nossa região ser rica em recursos naturais, ainda somos invisibilizados pelo poder público quando se trata do acesso a políticas públicas que nos são garantidas por lei.
Minha luta e resistência perpassam todas as fases de minha vida, e hoje se fortalecem junto de outras mulheres do meu lugar. Sou apaixonada pela terra, pela natureza, pela minha família, e, para mim, não existe lugar melhor no mundo para viver, mas precisamos ser vistos como sujeitos de direitos, pois na floresta tem gente, gente que luta diariamente para se manter, e para manter a floresta de pé.
Lidiana
Sou Lidiana Sá, filha de Manoel e Domingas, ambos lavradores, cultivadores de mandioca, nascidos e criados na pequena cidade de Curralinho, na Ilha do Marajó.
Quando criança, eu sempre acompanhava meu pai nos movimentos sociais. Eu gostava de ficar ali, sentada, vendo meu pai usar a máquina de datilografia para registrar as atas das reuniões organizadas por ele no Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Em 1995, aos 16 anos, comecei a participar de encontros e seminários, como o 1º Seminário para a Formação do Conselho Municipal da Criança e Adolescente e do Conselho Tutelar. Em 2009, consegui me formar e iniciei minha primeira pós-graduação em Gestão Escolar, pela Universidade Federal do Pará. Daí pra frente segui estudando e trabalhando.
Hoje sou professora e militante na luta contra a miséria e a fome. E, com muito orgulho, exerço o cargo de Secretária Nacional de Projetos Sociais e Parcerias pela CONAM-BRASIL (Confederação Nacional das Associações de Moradores e Entidades Comunitárias do Brasil).
Sassá
Sou Maria Sebastiana Ferreira da Silva, a Sassá de Muaná, Marajó. Este poema-texto que escrevi expressa o meu sentimento sobre o Marajó:
MEU MARAJÓ, MI BARAYÓ!
Meu chão aguado, meu Território questionado, minha história encarnada e encantada. Tuas lindas curvas na maré, que às vezes sufocam e engolem teus próprios filhos. Teus enormes campos abertos e matas emaranhadas com mistério e ousadia sustentados pelo Criador para sustentar Sua criação.
És autossustentável, mas estás devastado, teu povo nativo se confunde com inúmeras espécies que te têm como refúgio para exploração e esconderijo, espalhando suas manchas em nossas purezas inocentes e vulneráveis. Ah! Meu amigo, meu irmão, Marajó, não sabemos quando vamos emergir. Nem sabemos como. (…).
Somos filhos do amor fortalecidos nos pingos das águas e animados nas faíscas do brilho da Lua, não pereceremos jamais enquanto o sol nascer para nós. Agora é esperançar! Somos por ti, somos por nós e pelos nossos também. Viva o Marajó!
Edel Moraes – Paraense da Ilha do Marajó. Secretária das Populações Tradicionais e Desenvolvimento Rural Sustentável no Ministério do Meio Ambiente (MMA). Conselheira da Revista Xapuri. Os textos, editados por questão de espaço, serão publicados na íntegra no site da Revista: www.xapuri.info.