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Na pandemia, 94 mil estudantes negros deixam a universidade por dificuldades financeiras

Na pandemia, 94 mil estudantes negros deixam a universidade por dificuldades financeiras

Por Nataly Simões

Índices de evasão e atraso no pagamento das mensalidades aumentaram durante a crise econômica desencadeada pela

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Reprodução

Cerca de 43% dos estudantes matriculados nas 2.537 universidades privadas existentes no são negros. Por conta da crise econômica desencadeada pela pandemia da Covid-19, o novo coronavírus, o número de pessoas negras no ensino superior pode cair drasticamente.

A evasão e a inadimplência atingiram índices altos, segundo o Instituto Semesp, entidade que representa os donos de instituições de ensino superior privado.Além disso, não há avanço na criação de políticas de ações afirmativas.

Em abril, mais de 558 mil estudantes negros tiveram dificuldade financeira para manter a mensalidade em dia. Cerca de 94,1 mil estudantes negros tiveram que desistir do curso.

“A preocupação com a questão financeira é o principal motivo para o estudante negro deixar a faculdade. Mesmo aqueles que têm bolsa e precisam trabalhar para se manter no curso também estão sofrendo com a situação econômica. O perfil de trabalho dos estudantes, majoritariamente no setor de serviços, sofreu bastante impacto na pandemia”, explica a assistente social Lana Caroline Zino, estudante de psicologia na PUC-SP.

O levantamento do Semesp sobre as mensalidade atrasadas aponta uma alta de 14,9%, em abril de 2019, para 25,5%, em abril de 2020. Já o índice de desistência do curso subiu de 3,8% para 4,3%, na comparação com o mesmo período.

“É preciso implementar em todas as universidades, públicas e privadas, algum modelo de sistema de cotas para negros e indígenas como o ProUni. A base da pirâmide social do Brasil é a população negra”, considera Lana.
As universidades privadas que aderem ao ProUni recebem incentivos fiscais, redução de impostos e isenção de tributos por 10 anos. De acordo com o Ministério da (MEC), em 2019 foram feitas 1,2 milhão de inscrições para bolsas integrais (100%) e 280 mil parciais (50%).
“No enfrentamento para manter os alunos negros nas universidades, estamos vendo o quanto é difícil o avanço para implantar políticas de ações afirmativas. A ausência de negros nas universidades não é pela falta de capacidade, mas pela falta de oportunidade. Esse entendimento é difícil porque tem o bloqueio do mito da igualdade racial e da democracia racial, ignorando o percurso histórico dos negros e indígenas no Brasil ”, salienta a doutoranda em Serviço Social, Carla Cristina Teodoro, também pela PUC-SP.
No primeiro semestre, o Prouni liberou 122 mil bolsas integrais e 130 mil parciais de 50%. O retorno das aulas presenciais, em muitas universidades privadas, está previsto para setembro.
Carla e Lana, ambas ouvidas na reportagem, fazem parte do coletivo de pesquisadoras e pesquisadores negros Neusa Santos Souza, formado por alunos da pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. No início de agosto, alunos da instituição de ensino denunciaram que estavam trancando as matrículas por falta de bolsas.
Na ocasião, a PUC-SP informou que “tem buscado recompor internamente as condições de permanência dos alunos” . Para isso, “as solicitações de todos os discentes diretamente afetados estão em trâmite na Instituição para, dentro dos limites possíveis, se tentar responder às diversas demandas e necessidades”.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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