Não precisamos do senhor Musk

Não precisamos do senhor Musk

Não precisamos do senhor Musk

Não é novidade para ninguém, ou para quase ninguém, que existe um casamento entre o atual (des)governo federal e as ideias totalitárias, antidemocráticas. Daí a sintonia fina entre o bilionário Musk, que faz parte da extrema-direita internacional e aquele que destrói o Brasil…

Via Instituto Telecom

O futuro dono do Twitter vai garantir a utilização da rede social, com fake news disfarçadas de liberdade de expressão, para tentar a reeleição de seu aliado brasileiro. “Um sopro de esperança” afirma o antipresidente sobre abrir o Twitter indiscriminadamente, sem barreiras. Show dos horrores.

Mas a vinda de Elon Musk ao Brasil também teve outro grande objetivo: “quer fotografar toda a Amazônia com seus satélites de baixa órbita para revender a cartografia no mercado bilionário de imagens”, segundo o jornalista Luis Carlos Azenha.

Ou, como deixa claro o jornalista Jânio de Freitas: o antipresidente “comunicou ao país acordos de boca pelos quais ficam contratadas empresas de Musk para monitoramento da Amazônia por satélite; para telecomunicações lá e em outras regiões, e a ele concedido o uso explorativo das informações detidas por órgãos brasileiros sobre o território amazônico, natureza, solo e subsolo”. Segundo o antipresidente, “não tem contrato, é um acordo. Vamos facilitar tudo. Com ligeireza e desburocratização”. Acordo de boca para interesses estrangeiros fazerem o que quiserem na Amazônia.

E qual é a fala do senhor Musk? “Muito animado de estar no Brasil para o lançamento da Starlink para 19.000 escolas sem internet em áreas rurais e o monitoramento ambiental da Amazônia”. Falácia. O Brasil já possui o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) para este monitoramento.

E a colocação de internet nas escolas? É uma forma de tentar dourar a pílula de cicuta. Finge estar preocupado com a inclusão digital das crianças amazônicas.

Aqui nos auxilia o levantamento feito pelo vice-presidente do Clube de Engenharia, Márcio Patusco, sobre os recursos que já temos para a inclusão digital:

1) Leilão do 5G – R$ 3,1 bilhões das operadoras com recursos que irão para o Gape (Grupo de Acompanhamento do Custeio a Projetos de Conectividade de Escolas). Este é obrigado a garantir a destinação desse recurso para a implementação da banda larga nas escolas. Tanto rurais como urbanas.

2) Fust – Depende do Conselho Gestor, mas 18% estão garantidos para banda larga nas escolas. O agronegócio e as grandes operadoras querem abocanhar essa verba.

3) Projeto de R$ 3,5 bilhões que vai até o final do ano para conectar escolas, alunos e professores; planos de operadoras, chips e dispositivos.

4) Banda larga nas escolas. Desde 2010 todas as escolas urbanas deveriam estar conectadas. As concessionárias Oi e Vivo são as principais responsáveis por essas obrigações.

Além disso, temos um satélite brasileiro, o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC). Ele tem cobertura em todo solo brasileiro e pode perfeitamente atender com internet todas as escolas rurais. Nós temos a solução e o satélite é nosso. Não precisamos do satélite do senhor Musk.

Por fim, ressaltamos que a inclusão digital e a democratização do acesso à banda larga não pode, de maneira nenhuma, se transformar em mais um oportunismo eleitoreiro. Temos que reativar, no futuro governo democrático, o Fórum Brasil Conectado, com representantes do Estado, da sociedade civil, do empresariado, da Academia. Vamos redemocratizar o Brasil e as telecomunicações. Para isso, não precisamos do senhor Musk.

Block

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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