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“Não são números, são vidas”

“Não são números, são vidas”: Omissão criminosa do governo expõe à pandemia

No último levantamento feito pela Articulação dos Povos do Brasil (Apib), divulgado na sexta-feira (8), 55 indígenas morreram e 223 estão com testes confirmados. 30 povos foram atingidos nas regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste.

Os países ao Sul já identificaram o Brasil como polo irradiador da pandemia, responsabilizando a atuação irresponsável do governo e seu presidente. No outro extremo, o principal foco da pandemia na América do Sul está sendo acusado de “exportar” o coronavírus para o interior da Amazônia, ameaçando os povos indígenas da região.

A partir do Brasil, na fronteira da Tríplice Fronteira, um corredor de contágio avança sobre as populações mais pobres e as comunidades indígenas. A Tríplice Fronteira é formada por Tabatinga no Brasil, Letícia na Colômbia e Santa Rosa no Peru.

Nesta sexta-feira (8), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) lançou a Assembléia Nacional de Resistência para construir um plano de enfrentamento à pandemia.

“A cada dia perdemos mais vidas indígenas para . É alarmante a omissão do Governo Federal na garantia de proteção dos povos”, denunciam. O que acontece com os Kokama, no Amazonas, segundo eles, “é retrato dessa violência”. “É fundamental denunciarmos o descaso criminoso do governo federal e dar visibilidade ao que está acontecendo com os povos durante a pandemia do novo coronavírus”, alertam.

“Não são números, são vidas”

De acordo com a APIB, “em quatro dias dobraram as entre os nossos parentes pelo novo coronavírus” – entre 3 e 7 de maio, o número de óbitos subiu de 9 para 22. O povo Kokama teve o primeiro caso registrado de Covid-19 entre indígenas no Brasil, no dia 25 de março, demonstrando o alto grau de letalidade da doença em um único povo.

De acordo com dados da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), no Amazonas, os casos de mortes entre o povo Kokama aconteceram nos municípios de Tabatinga, Benjamin Constant, Santo Antônio do Içá, Itacoatiara, Autazes e . Além do povo Kokama, o Amazonas possui 43 indígenas mortos por Covid-19 de nove povos diferentes.

No último levantamento feito pela Apib, ontem (7), 55 indígenas morreram e 223 estão com testes confirmados, atingindo 30 povos nas regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste. Para se ter uma noção da subnotificação, adverte a APIB, a Sesai contabiliza no mesmo período 14 mortes e 176 casos de indígenas contaminados.

“Não são números, são vidas”, dizem as lideranças indígenas. Junto com as organizações de base, a APIB está realizando um levantamento de informações sobre casos de Covid-19 entre povos indígenas, sobretudo de casos subnotificados e não acompanhados pela Secretaria Especial de  Indígena (Sesai).

Na semana passada, artistas e intelectuais mundiais, liderados por , denunciaram a exposição dos povos indígenas à pandemia exigindo uma mobilização internacional para evitar um genocídio na região amazônica.

Da Redação – Fonte: Notícias do PT

 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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