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Nessa ALDEIA o espaço é de reflexão, silêncio e respeito – dignificação e reverência ao Povo Preto

Nessa ALDEIA o espaço é de reflexão, silêncio e respeito – dignificação e reverência ao Povo Preto

“Somente a reflexão crítica sobre a sociedade e sobre a própria condição pode fazer um indivíduo, mesmo sendo negro, enxergar a si próprio e ao mundo que o circunda para além do imaginário racista” Silvio Almeida

Hoje a ALDEIA quer se transformar num lugar de reflexão, silêncio e respeito. Desde cedo fomos impactados pela hashtag, nas redes sociais: #blackouttuesday.

Este movimento que começou com a indústria da música e se alastrou pelos mais variados segmentos e pessoas, serve como demonstração de solidariedade aos protestos raciais espalhados ao redor do planeta.

Para os não-negros, o apagão não pode ser um mero silenciamento em suas redes sociais. É sobre reflexão, diálogo e aprofundamento. É sobre dignificação e reverência.

Hoje, o contexto nos convida a refletir de forma cirurgicamente crítica. Vamos nos aproximar, segurar nas mãos uns dos outros e refletir juntos sobre o nosso de cada dia.

Como podemos transformar EFICAZ E EFETIVAMENTE o nosso contexto através do antirracismo? Como nos condicionaremos a um alerta constante e eterno, enquanto vivos estivermos, acerca das causas raciais?

Segundo Juliana Borges, em recente pesquisa, 92% dos brasileiros acreditavam que há racismo no . No entanto, apenas 1,3% se assumiu racista. 68,4% dos brasileiros adultos já presenciaram um branco chamando um negro de ‘macaco', apenas 12% fizeram algo em relação a agressão racista que testemunharam. Um em cada 6 homens brancos não gostaria de ver sua filha casada com um homem negro. Os dados são contraditórios desta pesquisa, a meu ver, traz a revelação do quão entranhado está o racismo na constituição da sociedade brasileira. É como uma mão invisível. Por que a necessidade de negar-se racista?

Consagre o dia hoje ao pensamento. Pensemos com o coração. O que é ‘negritude', ou…‘branquitude', ‘raça', ‘privilégio', racismo estrutural', ‘racismo recreativo', ‘ negro', ‘epistemicídio'? Dedique o seu dia a esses saberes. E faça isso por você!

Tome uma atitude compromissada em direção ao conhecimento mais profundo de causas que são NOSSAS. Se responsabilize pelas mazelas sociais no qual está inserido, através da eliminação da sua própria ignorância. Vamos avançar do senso comum. A causa negra é sua. É minha. É de quem está vivo e quer construir um lugar mais justo para se viver.

Não existe NENHUMA possibilidade de ensinar/aprender se não levarmos em consideração o racismo. Não existe ensino de matemática, ciências biológicas, poesia, arte ou português… se não considerarmos que TODAS essas construções têm, como pano de fundo, o conceito de raça.

Vamos extirpar a ideia esquizofrênica de uma sociedade dividida entre negros e brancos. Essa esquize é uma representação do imaginário social, mas suas consequências são bem reais: dor, loucura, sofrimento e morte.

Contudo, que possamos extirpar com CONSCIÊNCIA e não com NEGAÇÃO. Como nos ensina Sueli Carneiro, “(…) são argumentos de fácil aceitação pelo que reiteram das ideologias presentes no senso comum em que o elogio à mestiçagem e a crítica ao conceito de raça vem se prestando historicamente, não para fundamentar a construção de uma sociedade efetivamente igualitária do ponto de vista racial, e sim para nublar a percepção social sobre as práticas racialmente discriminatórias presentes em nossa sociedade”.

Os padrões de clivagem racial estão impregnadas em nosso imaginário e em práticas sociais cotidianas. Não basta escolher não ser ‘preconceituoso'. Não sermos ‘preconceituosos' não significa que sejamos ANTIRRACISTAS. Não praticar ‘injúria racial', não cometer crime de racismo, NÃO é ser ANTIRRACISTA.

Por certo, ninguém escolhe ser racista. Acontece que ESTE livre arbítrio, nós não temos! E não temos porque TODOS somos racistas, se consideramos que nascemos em uma sociedade com padrões e ideologias estruturalmente racistas.

Logo, eu preciso ser antirracista porque vivemos em uma sociedade com essa estrutura de clivagem racial.  Lacan dizia que “a palavra mata a coisa”. Por isso a Aldeia quer deixar claro, ou de-clarar fim à hipocrisia da negação do racismo. Afinal, como não sermos racistas se estamos todos chafurdados na lama de uma sociedade racializada?

Somos racistas, SIM. Somos ESTRUTURALMENTE RACISTAS. E é exatamente por isso que precisamos ser ANTIRRACISTAS. Caso contrário, seria meramente uma questão de escolha, queridos aldeões e aldeãs. E não é! Desde que tenhamos nacionalidade brasileira, não temos escolha, racistas já somos! Mas cabe à nós a escolha de sermos antirracistas!

Estrutura é esteio, é o que mantém de pé. É a coisa sobre a qual todo o resto é construído. Não existe a mínima possibilidade de colhermos paz e harmonia, enquanto nação, se não reavaliarmos as raízes de nossa . As mazelas que colhemos hoje, são consequências do que plantamos no passado. Antes de sair da caverna é preciso assumir que estávamos dentro de uma. E nós, professores, fazemos questão de sermos os primeiros.

Portanto, guardemos o dia de hoje. Reflitamos até chegarmos no limite de nossas possibilidades críticas. E daí, avancemos e repitamos o processo! O dia de hoje pertence à luz das ideias. É este o momento.

 

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Carolina Parrode é Sócia-diretora da Escola Aldeia, em Goiânia. Escola que prima pelo desenvolvimento acadêmico, emocional, intelectual e integralizador da criança neste mundo de agora. A Escola Aldeia enxerga a como importante polo de difusão cultural, de análise e reflexão, Além desse magnífico trabalho, Carol Parrode é Membro – Polo Valparaiso de Goiás – da Academia de Letras e Artes do Nordeste Goiano – ALANEG/RIDE.

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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