Novembro, Mês da Consciência Negra: Tempo de lutar e de refletir sobre privilégios
Kleytton Morais
Neste novembro da Consciência Negra, compartilho com vocês este texto da CUT-DF, fundamental para a nossa reflexão na luta.
Bruno (nome fictício), 29 anos, é um profissional bem-sucedido. Apesar da pouca idade, conquistou um lugar de destaque em sua área, o que foi resultado de muito empenho, uma vez que o rapaz não veio de família abastada. Mas nem tudo foi um mar de rosas. Ele relembra que, em uma de suas entrevistas de emprego, sentiu o peso do racismo de uma forma muito emblemática.
“Assim que eu cheguei ao local, percebi o olhar da entrevistadora sobre mim. Ela me via de cima, cheia de desdém. Enquanto esperava para ser atendido, chegou uma moça loira, bem dentro do padrão de beleza midiático e no mesmo momento, e a mulher que faria a entrevista falou para ela: ‘você tem o perfil da empresa, é exatamente o que estávamos procurando’. Naquele instante eu senti que fiz o processo seletivo por fazer, eu não seria contratado”, relatou. Bruno ainda afirmou que sente cotidianamente, a perseguição em lojas e supermercados. “Sempre tem um guardinha à espreita”, revelou.
A história do jovem infelizmente não é um caso isolado. Bruno faz parte de um grupo de pessoas que é constantemente subjugado pela cor de sua pele.
Para a pesquisadora e cientista social Ludmila Jardim, o racismo tem suas origens na escravidão, que foi um dos primeiros motores para o genocídio da população negra do Brasil.
“O processo abolicionista também teve seu papel nisso. A abolição feita de uma forma gradativa visava à exclusão total da população negra na busca de uma sociedade de padrão eurocêntrico e levou a um patamar mais denso desse genocídio. Esse processo começou a ser fatal, não só em relação aos nossos corpos, mas em relação ao nosso cabelo, ao conhecimento produzido pela nossa população, em relação à negação da nossa identidade, em relação a nossa própria identidade, e isso a gente chama efetivamente de epistemicídio, que é a morte de tudo o que é ligado a um determinado povo”, explica.
A pesquisadora também destaca que o processo de construção das favelas contribui para a segregação dos povos negros. “Transformaram esse espaço (favela) em um lugar restrito que facilita a identificação dos povos marcados pela colonização, e o Estado consegue aplicar as suas técnicas de controle social de forma mais efetiva e direcionada”.
Segundo o Atlas da Violência de 2021, em 2019, 66% das mulheres assassinadas eram negras. Os negros (soma dos pretos e pardos da classificação do IBGE) representaram 77% das vítimas de homicídios, com uma taxa de homicídios por 100 mil habitantes de 29,2.
Comparativamente, entre os não negros (soma dos amarelos, brancos e indígenas) a taxa foi de 11,2 para cada 100 mil, o que significa que a chance de um negro ser assassinado é 2,6 vezes superior àquela de uma pessoa não negra. Em outras palavras, no último ano, a taxa de violência letal contra pessoas negras foi 162% maior que entre não negras.
Para celebrar o mês da Consciência Negra, o Bancários-DF publica este texto produzido pela CUT-DF. Estamos juntos na luta por mudanças e na reflexão sobre os privilégios que, infelizmente, prosperam em nosso país.
Kleytton Morais – Presidente do Bancários DF. Capa: Acervo Geledés.