O ANONIMATO REVOLUCIONÁRIO DA REBELDE NEGRA LUIZA MAHIN
Encontrei, por esses dias, um texto de Felipe Larsen, “O anonimato revolucionário de Luiza Mahin”, publicado há décadas na coleção “Os Negros”, da Revista Caros Amigos.
Por Iêda Leal
“Há figuras que lutam e morrem em nome de uma causa e ainda assim passam anônimas nos registros históricos,” diz Larsen, resgatando um pouco da trajetória de Luiza Mahin, mãe do abolicionista Luiz Gama, militante da Revolta dos Malês, o último grande levante de escravizados/as da época colonial, grandemente ignorada pelos livros e até mesmo pela internet.
Ao contrário de seu filho advogado, sobre quem, com justeza, pode ser encontrada farta literatura, sobre a preta Luiza em geral são encontrados poucos registros, “que raramente passam de algumas linhas”, escreve Larsen.
Ou, como diz Joel Rufino, “tem pouquíssima coisa sobre a mulher, até mesmo se verificarmos dados sobre a Revolta dos Malês, rebelião de negros muçulmanos ocorrida em 1835, em Salvador, e que é a passagem mais conhecida da vida de Luiza Mahin”.
Estudos da pesquisadora Sueli Carneiro, do Geledés, citados por Larsen, nos permitem traçar um perfil da rebelde revolucionária que foi Luiza Mahin, negra da etnia jeje, vinda da África para o Brasil como escrava. Pela leitura das biografias do filho Luiz, nascido de ventre livre e pai desconhecido em 1830, pode-se inferir que por essa data ela já não era escravizada.
“Sua casa tornou-se quartel-general das principais revoltas negras que ocorreram em Salvador em meados do século XIX. Participou da grande insurreição, a Revolta dos Malês, o último levante expressivo de escravos ocorrido na capital baiana”, diz Sueli Carneiro.
Uma vez derrotada a revolta, Luiza fugiu para o Rio de Janeiro, onde, segundo se sabe, seguiu participando de outras insurreições negras, de onde, segundo Sueli, “possivelmente” foi deportada para a África, por conta de suas atividades revolucionárias.
O filho famoso, por sua vez, falava da mãe com reverência: “Sou filho natural de uma negra africana, livre, da nação nagô, de nome Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã. Minha mãe era baixa, magra, bonita, a cor de um preto retinto, sem lustro, os dentes alvíssimos, como a neve. Altiva, generosa, sofrida e vingativa. Era quitandeira e laboriosa”.
Em 9 de março de 1985, um século depois de sua brava e rebelde militância, veio o primeiro resgate de seu apagamento histórico. Por iniciativa do Coletivo de Mulheres Negras de São Paulo, uma praça do bairro da Vila Brazilândia, na capital paulista, recebeu o nome de Luiza Mahin.
De lá pra cá as coisas não mudaram muito. Luiza Mahin continua sendo, para muitas de nós, mulheres negras, e para a maioria da sociedade brasileira, uma quase anônima revolucionária. É preciso mudar essa realidade. Viva Luiza Mahin, sempre!
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p style=”text-align: justify;”>Iêda Leal – Dirigente do Movimento Negro Unificado. Conselheira da Revista Xapuri.