O Brasil matou dois Heróis brasileiros

O Brasil matou dois Heróis brasileiros. Isso é medonho

Por Rosilene Corrêa

Nesse momento de extrema tristeza, em que os restos mortais de Bruno Pereira e Dom Phillips fazem essa difícil parada em Brasília, não consigo parar de pensar na doída mensagem postada por Beto Marubo, líder indígena do Vale do Javari, nas redes sociais:

“Olá, pessoal, para mim, agora, é tempo de chorar, é tempo de luto, de nos reorganizar.Todas as aldeias de minha Terra, sete povos diferentes, decidiram fazer isso. O Brasil matou dois heróis brasileiros. E isso é anormal, não podemos aceitar essas aberrações. É medonho.”

É anormal que a nação que abriga a maior floresta tropical do planeta seja um dos países que mais mata lideranças indígenas, jornalistas e ambientalistas em todo o mundo.

É uma aberração que as mortes cruelmente matadas do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips sejam tratadas com escárnio por este arremedo de mandatário que, por enquanto, nos toca engolir.

É medonho o trágico sentimento de profunda dor imposto à Beatriz Matos, esposa de Bruno; à Alessandra Sampaio, esposa de Dom; aos ameaçados povos indígenas do Vale do Javari e a todas as pessoas que, no Brasil e no mundo, se recusam a aceitar as mortes de tantas lideranças imprescindíveis, como Chico Mendes, Dorothy Stang, Maxciel Pereira dos Santos, Bruno Pereira e Dom Phillips.

Façamos deste nosso luto mais força para seguir lutando.

Paz e Bem!

#JustiçaPorBrunoEDom

http://xapuri.info/rosilene-correa-mestra-de-tanta-luta/

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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