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O céu como espelho

O CÉU COMO ESPELHO

O céu como espelho: Satélite brasileiro reforça monitoramento ambiental

O Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS IV) foi finalmente lançado com sucesso no dia 7 de dezembro de 2014. Com ele, o volta a ter autonomia de monitoramento constante de suas florestas, , ções e demais alterações ambientais em todo seu território. São informações fundamentais para definição de , investimentos privados e mesmo fiscalização.

O fato foi divulgado e até comemorado diante de representantes de países das três Américas no 12º Encontro Regional de Monitoramento de Florestas, realizado de 19 a 23 de janeiro deste ano, em São José dos Campos (SP). O evento ocorreu na sede principal do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), naquela cidade, e reuniu delegados dos oito países da e das demais nações americanas.

O CBERS é um equipamento de alta precisão que, lá do espaço, permite acompanhar grandes e pequenas mudanças. Uma pista de pouso clandestina na Amazônia ou alguma fazenda do que esteja alterando cursos d’água, por exemplo, são prontamente detectadas. Além, é claro, de fornecer dados gerais sobre crescimento de áreas urbanas ou desmatamento de florestas, em todo o território nacional.

O lançamento do satélite era uma questão de honra não só para os cientistas e técnicos do INPE, mas também para a Agência Espacial Brasileira (AEB), pois o cumprimento de metas e a continuidade de várias atividades do Programa Espacial Brasileiro (PEB) estavam em jogo.

O céu como espelho

Um ano antes, em 9 dezembro de 2013, os dirigentes e participantes do Programa acordaram com uma péssima notícia que comprometeu mais uma vez o bom andamento do projeto. O lançamento do CBERS III B, na ocasião, fracassou devido a falha no sistema de propulsão do foguete Longa-Marcha. Ele parou de funcionar antes de o veículo atingir a velocidade necessária para injetar o satélite em órbita.

Falhas em operações de lançamento de satélites fazem parte do risco das atividades espaciais. No entanto, neste caso, com um foguete chinês cuja confiabilidade já havia sido comprovada por lançamentos anteriores, uma falha segundos antes da inserção do satélite em órbita era muito pouco provável.

Na área espacial, a análise das falhas dos lançamentos orbitais sempre contribui para corrigir e melhorar a confiabilidade das próximas tentativas. No entanto, outra lição pode ser aprendida. A dependência tecnológica impede o país de planejar e melhorar a sua infraestrutura.

Mais uma vez, o Brasil precisou de veículos lançadores de outros países para lançar os seus satélites. Técnicos do INPE estavam preocupados com o bom funcionamento de alguns sistemas eletrônicos do CBERS. Mas o bloqueio contínuo à importação de alguns componentes dos EUA exigiu mudanças na fase de finalização do satélite, ocasionando atraso de mais de um ano no seu lançamento.

O bloqueio tecnológico dos EUA em projetos voltados para a área espacial não é novidade para técnicos e cientistas brasileiros. A história do PEB é permeada por problemas desse tipo, não seria diferente agora. Mas, para ter um programa espacial completo, o brasileiro terá que se empenhar e investir mais e melhor para obter acesso ao espaço de forma independente.

Nos últimos anos, sob a coordenação da Agência Espacial Brasileira (AEB), o PEB passou por várias revisões, e a participação de indústrias nacionais e internacionais está sendo fortemente incentivada.

O Brasil se prepara para desenvolver e construir o seu primeiro sistema de satélites geoestacionários (SGB) para telecomunicações e meteorologia. A participação das comunidades científica e acadêmica no PEB também está aumentando – já são mais de 30 universidades atuando no PEB através do programa Uniespaço, da AEB.

Mas há problemas que ainda precisam ser solucionados no PEB. Um dos mais relevantes é o seu alto grau de dependência, principalmente no que se refere a tecnologias para construção e de veículos lançadores. E leve-se em conta que o PEB já tem 50 anos, tendo se iniciado praticamente ao mesmo em que os programas espaciais de países como Índia, França e China. Além disso, outros países que entraram bem depois nessa seara já contam com veículos lançadores, como é o caso do Irã e da Coreia do Sul.

Neste sentido, os esforços para desenvolvimento e construção do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no , são também de grande importância. A sua excelente localização pode sim transformar o local na mais importante base de lançamento do planeta. Precisamos, apenas, que o país invista mais no PEB e realize os acordos internacionais necessários para que Alcântara possa realizar, além da emissão de satélites nacionais, lançamentos comerciais para empresas e países.

Hoje, os países que possuem programas espaciais completos sabem que a criação, desenvolvimento e manutenção de um programa espacial é uma atividade extremamente complexa e dispendiosa, pois requer investimento contínuo e crescente, e os projetos são em geral de lenta maturação. Por isso, têm suas agências espaciais muito bem estruturadas.

Essas agências devem ser capazes de orientar o esforço executado por diferentes instituições e empresas, além de mapear e prospectar continuamente os caminhos mais curtos e eficientes para obter e utilizar as sofisticadas tecnologias que possibilitam o acesso ao espaço. Importante observar que devido ao grande esforço necessário para adquirir essas tecnologias, ao obtê-las, os países as guardam e protegem em regime de sigilo absoluto.

O céu como espelho

Nações que hoje possuem acesso ao espaço e iniciaram seus programas na mesma época que o Brasil (como Japão, França e Índia) também sofreram cerceamento na obtenção dos conhecimentos necessários para a colocação de satélites artificiais em órbita da Terra. O sucesso do programa espacial da Índia, com o recente envio de missões espaciais à Lua e ao planeta Marte, é um bom exemplo de superação.

As principais características dos programas espaciais daquele país foram a continuidade e a coerência com os objetivos iniciais, que apontavam sempre nesta direção: Autonomia para construir e lançar seus satélites com seus próprios veículos lançadores e a partir de seus territórios.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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