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O comovente discurso de despedida de Lula para Marisa

O comovente discurso de despedida de Lula para Marisa

O comovente discurso de despedida de para Marisa

Nos três anos da partida de Marisa do espaço físico deste , relembramos, com ternura, o comovente de discurso de despedida de Lula para Marisa. 

“Eu vou demorar para encontrá-la. Só vou partir depois que os facínoras que causaram a sua morte tenham a humildade de lhe pedirem desculpas. Nesse dia, irei encontrá-la com esse mesmo vestido vermelho que escolhi para vesti-la hoje e com essa mesma estrelinha que leva no peito.”   Lula, na despedida de Marisa (04/02/2017).

DE LULA PARA MARISA: UM COMOVENTE DISCURSO DE DESPEDIDA

“… Eu queria dar uma palavra de agradecimento a cada e a cada homem, cada companheiro, cada companheira, cada parente da Marisa, cada parente meu, e dizer ao companheiro Rafael, presidente do Sindicato, que minha não seria um décimo do que é se não fosse esse Sindicato.

Vocês não têm dimensão [do que] esse espaço [representa] na minha vida. Aqui eu aprendi a falar. Aqui eu perdi o medo do microfone.  Aqui nós decidimos combater a ditadura militar. Aqui nós criamos um novo sindicalismo. Aqui nós pensamos em criar a CUT. Aqui nós pensamos criar o PT. Daqui saiu a inspiração para que muitos sindicatos se transformassem num sindicato combativo.

Aqui eu conheci a Marisa [em 1973]. Aqui eu casei com a Marisa em 1975. Aqui a Marisa sustentou a barra para que eu me transformasse no que me transformei. Eu sou o resultado da consciência política dos brasileiros, mas também sou o resultado de uma menina que parecia frágil e que me deu a garantia que eu podia viajar para ajudar a criar [um] sindicalismo combativo.

O primeiro filho do [nosso] casamento é o Fábio, porque quando [casamos] ela já tinha o Marcos [de] dois anos e pouco. A Marisa ficou viúva novinha, assassinaram o marido dela dirigindo um táxi. Logo depois veio o Sandro, depois veio o Luiz Cláudio. E eu nunca estive presente. Por causa do PT. Por causa da CUT. Por causa das greves.

Eu lembro quando o Fábio nasceu. A gente estava pescando na represa Billings. Ela estava com água no pé do umbigo tentando pegar uma tilápia. Era um domingo e nós fomos embora para casa. Umas 6:30 da manhã, estourou a bolsa. Eu [a] levei no PS de São Bernardo. Só que eu tinha uma reunião da diretoria do Sindicato. Deixei a Marisa lá, e só fui lembrar umas 11 horas da manhã. Quando [voltei], já tinha nascido o Fábio.

O Sandro, eu fui pra Bahia no Congresso do Sindicato dos Químicos. Ele adiantou um mês e pouco. Eu estava no Congresso quando recebo a notícia de que a Marisa tinha tido o Sandro. Eram 9h, eu fui no bar [do hotel], tomei um conhaque sozinho e comemorei o nascimento do Sandro.

Aí nós combinamos que no próximo filho eu ia cuidar de ver o parto. Era mais ou menos 17h30. Estou lá na Clínica [quando] recebo um telefonema do Djalma Bonn, presidente do PT: “Lula, o PMDB quer uma reunião urgente [para] discutir [uma] aliança. ” Eu, mais uma vez, pedi desculpas à Marisa, e falei: “Meu , ainda não é dessa vez”. Quando voltei, à meia noite, já tinha nascido o Luiz Cláudio. Às vezes eu tenho culpa, às vezes eu acho que é assim mesmo. Ela praticamente criou os filhos sozinha. Ela foi mãe, foi pai, foi , foi tudo. Ela cuidou de todos e nunca reclamou da vida.

A Marisa começou a trabalhar com 11 anos de idade. Era babá. Depois foi trabalhar na [fábrica de chocolates] Dulcora. Depois casou, perdeu o marido, ficou viúva e conheceu esse ser humano bonito – que sou eu – e casou [de novo]. Faz 43 anos que eu brinco com a Marisa, todo ano, que ela acaba de ser eleita a mulher mais bem casada do mundo [porque] nós tivemos uma vida extraordinária.

Eu e a Marisa nunca brigamos. Eu já brigava muito no PT, no Sindicato. Quando eu chegava em casa, às vezes a Marisa queria brigar, mas eu falava: “Marisa, não adianta que eu não quero brigar.” E não brigava. Eu não aprendi na universidade, eu aprendi de uma mãe analfabeta como tratar a parceira da gente: “Nunca levante a mão pra sua mulher, nunca levante a voz pra sua mulher.”

Pois bem, a Marisa se foi.  Eu certamente sofro menos do que as pessoas que não acreditam em Deus, do que as pessoas que não acreditam em outro mundo, porque eu acredito em outra vida. E eu acho que ela vai [voltar a nos] encontrar. Ela deixou aqui muita gente que ela gosta, sobretudo os filhos dela, os netos dela, e eu [que] já estou bisavô. E eu penso que nós vivemos esse tempo todo vendo uma companheira humilde.

Quando eu fui eleito presidente, a Marisa era vítima de chacota. A direita dizia: “Será que ela vai conseguir limpar aquele vidro todo do Palácio? Será que ela vai ser ministra? ” Eu ficava pensando… eu coloco a Marisa para ser ministra, aí a imprensa começa a bater nela. Bate nela num canto e bate no Lula no outro. Bate nela num canto… não!  Em casa, a gente sentava, conversava, discutia, e [a opinião dela] tinha muito mais importância do que a dos ministros. A Marisa sempre dizia pra mim: “Lula, você não esqueça nunca de onde você veio e pra onde você vai voltar”.

Uma vez a gente estava jantando no Palácio do Alvorada e a Marisa começou a rir, sabe quando a pessoa parece que vai morrer de rir? Eu não sabia do que a Marisa estava rindo, e ela disse: “Sabe porque estou rindo, Lula? É porque esses companheiros que trabalham na cozinha nunca imaginaram que esse palácio fosse ter uma mulher de presidente que pedisse pra eles cozinharem pé de frango pra ela comer.”

Eu vou continuar agradecendo a Marisa até o dia em que eu não puder mais agradecer. O dia que eu morrer. E espero encontrar com ela, com esse mesmo vestido que eu escolhi para colocar nela hoje, vermelho, pra mostrar que [se] a gente não tinha medo do vermelho quando era vivo, não tem medo do vermelho quando morre.

Ela está com uma estrelinha do PT no seu vestido, e eu tenho orgulho dessa mulher [que], muitas vezes com a molecada dormindo no chão, [lá estava] vendendo camiseta, vendendo bandeira, pra construir um partido que a direita quer destruir.

Marisa morreu triste [por causa] da canalhice [d]a imbecilidade e [d]a maldade que fizeram com ela. Eu tenho 71 anos. Não sei se Deus me levará em curto prazo. Mas eu acho que vou viver muito porque eu quero que os facínoras que levantaram leviandades com a Marisa tenham um dia a humildade de pedir desculpas a ela.

Eu digo todo dia: Se alguém tem medo nesse país, se alguém tem medo de ser preso, esse que está enterrando a sua mulher hoje não tem, porque eu tenho a consciência tranquila. E tenho certeza da consciência e do trabalho da minha mulher. E não sou eu que tenho que provar que sou inocente. Eles é que precisam provar que as mentiras que eles estão contando são verdadeiras.

Portanto, querida companheira Marisa, descanse em paz, porque o seu Lulinha Paz e Amor vai continuar brigando muito para defender a sua honra e a sua imagem.

O comovente discurso de despedida de Lula para Marisa

PARA MARISA  LETÍCIA, NOSSO CARINHO, NOSSO AMOR,  NOSSA SAUDADE, SEMPRE


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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