O comunista

Marighella, o comunista

O comunista

Para seu conforto pessoal
Vou partir para o finalmente
Ele foi preso, torturado e morto
Como mandavam as leis vigentes…

Por Alessandro Diniz

Diziam que ele andava com prostitutas
Que uma beijava-o na boca sempre
Está escrito nas apócrifas escrituras
Os textos sagrados nunca mentem.

O terrorista que atacou os mercadores
Que denegriam a imagem do templo
Enfureceu os divinos sacerdotes
Os homens mais sábios daquele tempo.

Era um perigo para a sociedade
Que está sempre a espera de um salvador
Para sanar suas eternas necessidades
Há muito clamado com grande fervor.

Era defensor de mulheres adúlteras
Foi contra a morte daquela corrupta
Atentando contra a decência convencional
Dos santos juízes que a julgam.

Ousou matar a fome do povo
Ousou pedir que repartissem o pão
Pervertendo com conversas absurdas
Sobre igualdade, amor e perdão.

Foi devidamente punido e serve de exemplo
Para aqueles que ousam desafiar o poder
Pagou com a vida por todo o alento
Que subversivamente ousava oferecer.

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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