Mães Fulni-ô: O cuidado com as criaturinhas que chegam a este mundo

Mães Fulni-ô: O cuidado com as criaturinhas que chegam a este mundo

“Assim que nasce uma criança, as mães têm muito cuidado com ela. Há alguns anos, as crianças nasciam na aldeia, sendo cuidadas desde o momento do parto pelas parteiras índias, geralmente as mais velhas…

E tinha toda uma forma especial de cuidado para que não ocorressem complicações durante o parto. Todos esses cuidados tinham uma grande importância, e era muito difícil uma mulher morrer na hora em que estava dando a luz.

O principal cuidado é com o umbigo. Depois do nascimento, com oito dias, ele tem que cair. Se o umbigo fica inflamado, as  mães curam com óleo de coco, que elas mesmas fazem, e pó de plantas como a folha do samba-caitá, da aroeira, e da palha do coqueiro do ouricuri queimados, e transformados em pó. O umbigo deve ser enterrado, e não pode ser deixado à toda, porque traz má para a criança.

As mães ficam muito atentas ao resguardo para que ele não seja quebrado. Elas não podem ser assustadas, fazer esforço físico e ter sentimentos de raiva. Ele dura trinta e cinco dias, quando o parto é normal, quando é cesariano, o resguardo dura sessenta dias. O resguardo não pode ser quebrado, porque pode provocar vários problemas de saúde como: dor de cabeça, nervoso, entre outros.

No resguardo, as mães não podem comer comidas carregadas: preá, tiú, sem escama ( traíra, bambá e outros), porco, peru, carneiro. O tempero tem que ser fraco, geralmente água e sal. A comida mais indicada é pirão com farinha de mandioca com caldo de carne, galinha ou peixe.

Essa dieta também é seguida por que estão menstruadas, pessoas que fizeram qualquer tipo de cirurgia e pessoas que estão com inflamações internas no corpo.

As mães são excelentes no cuidado de seus filhos recém-nascidos, elas dão banhos de ervas sagradas para espantar o mal. Não pode deixar as crianças sozinhas para que os espíritos ruins não apareçam, eles podem deixar a criança chorando e as mães ficam sem saber o que a criança tem. Se acontecer isso, é também mau olhado, a mãe leva a criança para rezadeira rezar”.

 

SOBRE OS FULNI-Ô

Os Fulni-ô, indígena pertencente ao tronco Macro-Jê, contam com uma população de 3.657 pessoas (Funasa, 2006). Atualmente, habitam a terra Fulni-ô, circunscrita a 11.506 hectares e localizada no município de Águas Belas, estado de Pernambuco, região semiárida do Nordeste Brasileiro. Nessa Terra Indígena existem três aldeias: a Aldeia Sede, onde a maioria da população habita; a Aldeia Xixiakjlá; e a Aldeia do Ouricuri, local sagrado onde são realizados os rituais religiosos dos Fulni-ô.

Fonte: Excerto do livro “  Fulni-ô: Nossa Sagrada”. Associação Mista Cacique Procópio Sarapó. 2008. Foto: afolhadobosque.typepad.com


PHOTO 2021 02 03 15 06 15


Réquiem para o Cerrado – O Simbólico e o Real na Terra das Plantas Tortas

Uma linda e singela história do . Em comovente narrativa, o Altair Sales nos leva à vida simples e feliz  no “jardim das plantas tortas” de um pacato  povoado  cerratense, interrompida pela devastação do Cerrado nesses cruéis que nos toca viver nos dias de hoje. 

COMPRE AQUI

Capa Livro CompreAgora 02

Deixe seu comentário

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

logo xapuri

REVISTA