O FEIJÃO: BASE DA ALIMENTAÇÃO DO SERTANEJO
O feijão de cada dia faz-se com feijão seco, comum, chamado feijão-de-corda, de grão pequeno e redondo. O feijão-mulatinho, de grão alongado, é mais caro e menos apreciado do que o feijão-de-corda.
Por Rachel de Queiroz
Dizem as mulheres sertanejas que o feijão-de-corda dá pra comer de água e sal que já tem sabor. O mulatinho exige tempero: o refogado de alho e cebola fritos no óleo ou na banha de porco.
(…) O feijão, base da alimentação do sertanejo, come-se de todas as maneiras: verde, maduro e seco. O verde come-se ainda na vagem, cortado em pedaços pequenos.
O maduro (o que já se pode debulhar) come-se como o seco: cozido e temperado. O tempero mais apreciado para o feijão é a nata do leite, que em geral é retirada do leite com que se faz o queijo.
Rachel de Queiroz , em: O Não Me Deixes, suas histórias e sua cozinha, p.43 , ARX, 2000.
BIOGRAFIA DA RACHEL DE QUEIROZ
pela Academia Brasileira de Letras, da qual foi a quinta ocupante da Cadeira 5, eleita em 4 de agosto de 1977, na sucessão de Cândido Motta Filho e recebida pelo Acadêmico Adonias Filho em 4 de novembro de 1977:
Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza (CE), em 17 de novembro de 1910, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ) em 4 de novembro de 2003. Filha de Daniel de Queiroz e de Clotilde Franklin de Queiroz, descende, pelo lado materno, da estirpe dos Alencar, parente portanto do autor ilustre de O Guarani, e, pelo lado paterno, dos Queiroz, família de raízes profundamente lançadas no Quixadá e Beberibe.
Em 1917, veio para o Rio de Janeiro, em companhia dos pais que procuravam, nessa migração, fugir dos horrores da terrível seca de 1915, que mais tarde a romancista iria aproveitar como tema de O quinze, seu livro de estréia. No Rio, a família Queiroz pouco se demorou, viajando logo a seguir para Belém do Pará, onde residiu por dois anos. Em 1919, regressou a Fortaleza e, em 1921, matriculou-se no Colégio da Imaculada Conceição, onde fez o curso normal, diplomando-se em 1925, aos 15 anos de idade.
Estreou em 1927, com o pseudônimo de Rita de Queiroz, publicando trabalho no jornal O Ceará, de que se tornou redatora efetiva. Em fins de 1930, publicou o romance O quinze, que teve inesperada e funda repercussão no Rio de em São Paulo. Com vinte anos apenas, projetava-se na vida literária do país, agitando a bandeira do romance de fundo social, profundamente realista na sua dramática exposição da luta secular de um povo contra a miséria e a seca. (…).
Cronista emérita, publicou mais de duas mil crônicas, cuja seleta propiciou a edição dos seguintes livros: A donzela e a moura torta; 100 Crônicas escolhidas; O brasileiro perplexo e O caçador de tatu. (…) Tem duas peças de teatro, Lampião, escrita em 1953, e A Beata Maria do Egito, de 1958, laureada com o prêmio de teatro do Instituto Nacional do Livro, além de O padrezinho santo, peça que escreveu para a televisão. (…)
Recebeu o Prêmio Nacional de Literatura de Brasília para conjunto de obra em 1980; o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará, em 1981; (…) a Medalha da Inconfidência do Governo de Minas Gerais (1989); O Prêmio Luís de Camões (1993); o Prêmio Moinho Santista, na categoria de romance (1996); o Diploma de Honra ao Mérito do Rotary Clube do Rio de Janeiro (1996); o título de Doutor Honoris Causa, pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (2000).
Foto: Contioutra