O festival da água

O festival da água

Jaime Sautchuk 

O 8º Fórum Mundial da Água (FAMA), realizado em (DF) de 18 a 23 de março, mostrou-se um evento muito rico, suntuoso até, mas sem novidades de alguma relevância. Representantes de 160 países, incluindo dez chefes de governos e de , estiveram presentes, com uma temática que foi desde as leis que regem os recursos hídricos até o espiritualismo na água.

O encontro é organizado pelo Conselho Mundial da Água, uma entidade não-governamental, com sede em Marselha, na França, que congrega representantes de governos, ONGs e empresas privadas. É realizado desde 1996, a cada três anos, em países diferentes, sendo esta a primeira vez no Hemisfério Sul.

Em Brasília, exceto uma ala de visitação pública gratuita, nos 10.000 m² com atividades diversas corre muito dinheiro, com acesso restrito e caro — e debates bastante direcionados. Os ingressos, com preços variados, chegam a custar 900 Euros, ou pouco mais de R$ 3.600,00.

Os hotéis da cidade lotaram, alguns tendo que se submeter ao rodízio de racionamento de água, há mais de um ano em vigor na capital. Já muitos conhecedores do assunto, como índios, outros e pescadores, ficaram de fora e promoveram um fórum alternativo, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB).

Esses encontros paralelos foram novas oportunidades de denunciar as iniciativas do governo federal brasileiro, com forte apoio no Congresso Nacional, de privatização da água. E de reforçar a determinação constitucional de que este é um , destinado ao usufruto de todos, e não um produto sujeito a regras de um tal mercado.

Em verdade, o 8º FAMA foi um grande festival em que foram repetidas as sinistras previsões sobre o futuro da água na Terra e as mesmas receitas de como encarar um problema muito presentes em muitas partes do mundo e do , mas sem exemplos de ações concretas, abrangente, que já tenham sido adotadas. Ou seja, o mesmo lero-lero de sempre.

Aliás, a organização do evento apresentou como grande inovação o manejo de uma fazenda de grãos no interior de , com irrigação e preparo do solo. A propriedade foi apresentada em vídeo e folhetos vistosos, bem elaborados, mas que fazem rir os agricultores tradicionais e funcionários do próprio governo conhecedores de técnicas agrícolas.

Na prática, porém, o que é feito na tal propriedade – e apontado como “novo” – é a milenar curva de nível, usada desde os primórdios da agricultura, quase na Idade da Pedra. São sulcos na terra que promovem a infiltração da água no solo e impedem o escorrimento do terreno, o que, com as práticas usadas hoje em dia, assoreia veredas, córregos e rios.

Seriam muitos os exemplos positivos no Brasil, mas frutos de esforços localizados, isolados, com efeitos restritos. Especialmente na região do Cerrado, bioma já seriamente comprometido pela agricultura predatória dos ruralistas, que retiram por completo a cobertura vegetal nativa, que garante o reabastecimento dos aquíferos subterrâneos, e comprometem os cursos d’água e a qualidade dos solos, pelo excesso de venenos lançados.

No evento, foi apresentado também o Relatório Mundial das Nações Unidas (ONU) sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2018. O documento repete uma vez mais que “a saída não está só na construção de represas, estações de tratamento de água e esgoto e canais de irrigação de lavouras, mas também na preocupação de restauro e manutenção da natureza”.

Enfim, o principal momento mundial de debates a respeito da água serve como novo alerta. A nós, brasileiros, fica evidente que a má gestão e a conivência do poder público com a ganância de alguns que buscam o lucro fácil nas atividades econômicas, nas e no campo, ainda são problemas que temos de enfrentar.

Rio AzuisAzuis, o menor rio do Brasil. Foto: Instituto Cerratense

Fonte desta matéria:  Portal Vermelho


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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