O Lula é um atrevido
O que será que o atrevido do Lula ganha se metendo na guerra da Ucrânia, ao sugerir a constituição de um grupo mediador de um processo de paz? Parece que o mesmo que o presidente francês, Emmanuel Macron, que, ao voltar de sua recente visita à China disse, no dia 9 de abril, ao jornal Les Echos, que os europeus precisam lutar pela “autonomia estratégica” para não se tornarem “vassalos” nem da China nem dos Estados Unidos.
Por ACQ
Nessa toada, Lula e Macron apenas repetem a lição do ex-secretário de Estado americano John Foster Dulles: “Países não têm amigos, mas interesses comuns”. Enquanto houver interesses comuns, viva a amizade, uai!
O problema é que os coleguinhas continuam dando palpites na matéria só de orelhada. De orelhada no Jornal Nacional, pró-americano, bem entendido. E de orelhada estreitamente moralista, baseada num vago sentimento da justiça com jota minúsculo, supostamente compartilhada pela “comunidade internacional”, quer dizer, os Estados Unidos, os membros da OTAN, o Japão e a Austrália, digamos.
O que os palpiteiros de plantão (incluindo o coleguinha Kotscho) sabem da história da Ucrânia? Será que sabem que a Crimeia fazia parte da Rússia desde 1783, quando o Império Czarista anexou a península uma década depois de derrotar as forças otomanas na Batalha de Kozludja, até 1954, quando o governo soviético transferiu a Crimeia da Federação Soviética Russa das Repúblicas Socialistas para a União Soviética Ucraniana?
Pra que saber detalhes desse tipo se a Crimeia efetivamente faz parte da Ucrânia desde 1954 e continuou assim como república autônoma a partir de 1991? Ora, no mínimo para complicar as análises da geopolítica, que não podem ir muito longe quando os analistas são chutadores!
Segue aqui um textinho de introdução muito interessante a um dossiê da história da sessão da Crimeia à Ucrânia em 1954, redigido por Mark Kramer, diretor de Estudos da Guerra Fria da Universidade de Harvard e membro sênior do Davis Center for Russian and Eurasian Studies de Harvard. O texto foi publicado pelo Wilson Center, um think tank ligado ao governo dos Estados Unidos, e não ao Kremlin.
Aqui a gente se enfronha sobre as possíveis razões da sessão da Crimeia pelo então premier Nikita Krushov à Ucrânia, em 1954, uma delas, a de fortalecer a sua posição na direção da União Soviética. Já naquela época, 75% dos habitantes da península eram de etnia russa, e 25%, ucraniana.
Depois eu volto ao ataque, com algumas considerações sobre as principais escolas das Relações Exteriores. Eu sou muito simpático ao realismo ofensivo, evidentemente…
Antonio Carlos Queiroz – Jornalista.