“O Professor trabalha por amor, nem precisa de salário”
Ibaneis Rocha – Governador do Distrito Federal. Pela sua afinidade ideológica com o projeto político derrotado nas urnas no último processo eleitoral, realizado no extinto 2022, seria repetir o óbvio afirmar que o atual Governador da Capital do Brasil tem pouco zelo e nenhum respeito pela Educação e pelos Professores.
Por Paulo Valério Silva Lima
Após 08 (OITO) anos sem reajuste salarial, sem nem ao menos a reposição da inflação acumulada no período, teve o mandatário do Distrito Federal a ousadia de imaginar que 18%, dividido em três parcelas anuais, seria um índice mais do que merecido pelos educadores e orientadores da Rede Pública de Ensino.
Vamos então aos fatos:
Os professores passaram TODO o mandato do Governador Rollemberg sem reajuste e sem conseguir ter acesso as portas daqueles que tomavam decisões sobre as carreiras dos servidores, como agravante ainda tiveram que assistir ao Governador acionar o Poder Judiciário para não pagar a última parcela do reajuste pactuado pelo seu antecessor.
Como os educadores confiam na justiça, esperamos até que sentença judicial determinou pela conclusão do pagamento, mas então já era Governador Ibanez Rocha, com sua sanha de implementação de escolas militares não planejadas e que carecem que comprovação de eficácia pedagógica, para a surpresa de NENHUMA PESSOA recorreu aos tribunais e protelou o quanto pode o cumprimento da decisão judicial até que, por fim, apenas no final do seu primeiro mandato, concedeu o reajuste pactuado com a categoria quando da implantação do Novo Plano de Carreira, ainda na gestão Agnelo Queiroz.
Mas a benesse concedida não ocorreu antes de que Ibanez conseguisse aumentar o desconto dos INSS nos contracheques dos Servidores da Educação, o que tornou inócuo, até pela longa passagem do tempo, o reajuste da última parcela.
Esta mesma categoria, que hoje encontra-se paralisada em movimento grevista, foi a categoria que, juntamente com médicos e enfermeiros, enfrentou de forma mais direta a pandemia, e em seus momento mais agudo, retomou as aulas de maneira remota, sem NENHUM apoio do GDF, quer seja de infra estrutura logística, quer seja de tráfego de dados, quer seja de qualificação dos profissionais da Educação que se viram obrigados a custear e a manter funcionando as aulas remotas com seus próprios recursos já que o apoio prometido pelo GDF reside até hoje no campo das promessas.
Com o retorno presencial antecipado de maneira irresponsável, coube aos professores, além de todas as outras atribuições, a responsabilidade de fiscalizar o uso correto das máscaras e, sobretudo e principalmente, promover o acolhimento da juventude que se encontrava assustada e abandonada pelo Estado Candango.
Em nenhuma dessas ocasiões o Governador demostrou o menor respeito ou consideração pelos educadores e orientadores educacionais.
Finalmente, por ocasião da inauguração das obras de revitalização do CASEB, que completava então 61 anos, obras custeadas pela INICIATIVA PRIVADA, o que já diz muito a respeito do descaso do Governador com a escola mais ANTIGA da Capital, eis que em seu discurso festivo o Governador, publicamente, lança a frase: “Professor trabalha por amor, nem precisa de salário”.
Sou professor da Rede Pública de Ensino. Eu tenho amor pelo que faço, eu tenho amor pelos meus educandos, eu tenho amor pela educação. Mas o meu amor não paga o meu aluguel, meu amor não negocia dívidas e meu amor não costuma ser aceito pelos consignados do BrB.
A celeridade com a qual o Governador recorreu à justiça para declarar ilegal a Greve dos Professores e a ânsia com a qual a equipe da Secretaria de Educação anunciou o corte de pontos parece sim confirmar a máxima do Excelentíssimo Senhor Governador, de que o professor “nem precisa de salário”.
Respeite a educação Ibanez. Tenha pelo menos a fineza de dignar-se a orientar a sua equipe a negociar condições razoáveis para a retomada das aulas.
Com amor pela Educação é que se faz a LUTA.
Paulo Valério Silva Lima: Professor de História da Secretaria de Educação e grevista. Capa: Sinpro DF
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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