O que aconteceu com dona Clotilde?

O que aconteceu com dona Clotilde?

Com passado antifascista, a atriz Angelines Fernández por trás da personagem teve uma morte comovente, aos 71 anos

Por Wallacy Ferrari, sob supervisão de Thiago Lincolins/ Aventuras na História 

Durante a década de 1980, o Brasil conheceu, através do apelido de ‘Bruxa do 71’, a personagem Dona Clotilde, personificada pela atriz espanhola Angelines Fernández.

Por aqui, se tornou um rosto popular para o público tupiniquim com idade avançada, amplificada pela personagem ranzinza e maquiagem de envelhecimento.

Contudo, engana-se quem acredita que o destaque da atriz se deu apenas pela vila do Chaves; Angelina foi obrigada a deixar seu país natal durante a Guerra Civil Espanhola, sendo classificada como uma opositora do ditador Francisco Franco. Com isso, mudou-se para o México, sendo descoberta pelo ator Ángel Garasa e inserida no ramo do entretenimento na América.

Angelines em foto como Bruxa do 71
Angelines em foto como Bruxa do 71 – Divulgação / Televisa

Amizade próxima

Tendo Ramon como melhor amigo durante as duas décadas que participou dos esquetes e episódios de Chaves, firmou uma parceria que duraria até o final da vida do amigo, que faleceu em 1988, vítima de um câncer que atingiu fígado e pulmão. A morte do colega a afetou drasticamente. 
Assim como o intérprete de Madruga, Angelines fumava bastante; a revista Quem destaca depoimento da filha da atriz que, em seus anos finais, ela chegou a fumar dois maços de cigarros diariamente, no auge da depressão.
Angelines foi acometida por um câncer de pulmão em 1994, falecendo em 25 de março daquele ano. 
Com prestígio nacional, seu velório, anunciado em jornais, foi acompanhado por uma multidão de fãs antes do enterro no Mausoleos Del Ángel, no México. Curiosamente, morreu com a mesma idade que popularizou sua personagem mais quimérica, aos 71 anos.

Angelina no papel de Dona Clotilde em cena de Chaves / Crédito: Divulgação / Televisa
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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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