O trem parou no Pará

O trem parou no Pará

O governador Helder Barbalho anunciou, na segunda-feira (23 de março), no seu perfil no Twitter: “Acabamos de proibir a entrada de um trem com passageiros da empresa Vale no Pará! Ele ficará retido na cidade de Açailândia, no do ”.

Por Lúcio Flávio Pinto

O acento de exclamação ao final da primeira frase parece indicar que o governador praticou um ato de autoridade, bravura ou, talvez, de heroísmo: parou o trem de passageiros; agora, só o trem de minério continuará a circular entre o Pará e o Maranhão, pelos 892 quilômetros de extensão entre Carajás e o porto da Ponta da Madeira, em São Luís.

Com a providência, o governador deu as devidas consequências ao reforço dos cuidados para reduzir a circulação do novo coronavírus no Pará, mandando fechar o Estado por terra, mar e água com o restante do Brasil, numa das iniciativas estaduais que irritaram o presidente Jair Bolsonaro, defensor da volta imediata e irrestrita às atividades econômicas.

A mineradora Vale, dona do trem, do porto, da província mineral e de muita coisa mais, deu pronto cumprimento à ordem do governador: desgarrou o carro de passageiros do comboio de minério, com quase quatro quilômetros de extensão.

A empresa prometeu ressarcir do valor pago os passageiros que tinham como destino as paraenses, que retornaram aos pontos de embarque de utilizando o próprio trem até o destino final, na capital maranhense, onde ficará estacionado até segunda ordem. Eles também poderão remarcar as passagens para outra data.

Esse contratempo poderia ser evitado se a Vale tivesse tomado essa iniciativa no domingo. O governador disse, em entrevista coletiva, que nesse mesmo dia avisara a empresa sobre a proibição. A mineradora agiu, dois dias antes da proibição, como se as viagens pudessem continuar adotando no trem de passageiros medidas preventivas ao coronavírus.

A companhia garantiu que a taxa de ocupação dos vagões seria reduzida pela metade para evitar aglomerações a bordo, pelo aumento do espaçamento entre as poltronas, seguindo orientação da Organização Mundial da .  A higienização nos vagões, que já havia sido intensificada, seria ainda mais frequente durante as viagens e nas paradas de manutenção. Nas estações, e a bordo do trem, os passageiros estavam recebendo orientações sobre como prevenir o .

Supõe-se que o último trem saiu de São Luís com esses cuidados. Mesmo que a empresa tivesse sido imprudente, não seria mais lógico, racional e humano permitir que os passageiros pudessem chegar ao seu destino, no Pará, sujeitos a todas as formas de controle em Marabá e Parauapebas, ponto final da viagem, com 18 horas e duração?

Assim, desapareceu um meio de transporte utilizado diariamente por 1,5 mil pessoas, numa região carente de bons meios de transporte – e de quase tudo, aliás. Mas o trem de minério continuou a sua faina de carregar quase 70 mil toneladas do melhor minério de ferro do mundo em cada viagem no rumo, principalmente, da China, onde a pandemia começou.

 

LUCIO FLAVIO PINTOLúcio Flávio Pinto – , jornalista e sociólogo.

 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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