O triunfo da “balbúrdia” sobre um xingador profissional

O triunfo da “balbúrdia” sobre um xingador profissional

POR FERNANDO BRITO/Tijolaço

Cinco meses atrás, o sujeito que ocupa o Ministério da – é questão de decoro não chamá-lo de ministro – disse que as universidades federais eram antros de “balbúrdia”, não de educação, procurando justificar com isso o corte de suas verbas.

Hoje, nos resultados do exame de qualidade feito pelo próprio MEC nas instituições de ensino superior, a prova de que Abraham Weintraub não é nada além de um xingador profissional e uma figura patética .

Perto de dois terços (64%) dos cursos das universidades federais tiveram os conceitos ótimo (5) e bom (4). Com o conceito 3, regulares, foram 25%, o que deixou apenas 11% entre os conceitos 2 (ruim – 9%) e 1 (péssimo – 2%).

As universidades privadas onde, em tese, não haveria balbúrdia – porque, afinal, paga-se caro para estudar – tem resultado virtualmente inverso: só 3% alcançaram o grau máximo, enquanto o conceito de bom ficava em 18%. Portanto, apenas uma em cada cinco pode ter um desempenho chamado de satisfatório. As regulares- conceito 3 – foram quase a metade (48%), enquanto as ruins e péssimas somaram 32%. Um terço, praticamente.

É a visão tacanha de gente que não tem a menor intimidade com o ensino, que pensa que uma deve ter códigos de comportamento próximos aos de colégios internos ou de quartéis.

Como os homens de plantão no comando de nossa educação, que acham que ela será melhor espalhando PMs pelo pátio, para zelar pela a única que valorizam: a disciplina comportamental.

Fonte: Tijolaço

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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