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Para Dom Pedro Casaldáliga, feliz 91!

Para Dom Pedro Casaldáliga, profeta e poeta do Araguaia, feliz 91!

Por meu povo

em luta, vivo

Com meu povo

em marcha, vou

Tenho fé de guerrilheiro

e amor de revolução.

Dom Pedro Casaldáliga

 

Dom Pedro Casaldáliga completou 91 anos de vida neste 16 de fevereiro de 2019. Em ao bispo da resistência, que dedicou sua vida à luta pela libertação dos oprimidos, dos indígenas e camponeses expulsos de suas terras pelo na região de São Félix do Araguaia (MT). Em sua homenagem, reproduzimos aqui seu poema Ofertório, fragmento da Missa dos , escrita em colaboração com o poeta Pedro Tierra.

 

OFERTÓRIO

 

Na cuia das mãos

trazemos o vinho e o pão,

a luta e a fé dos irmãos,

que o Corpo e o Sangue do Cristo serão.

O ouro do Milho

e não o dos Templos,

o sangue da Cana

e não dos Engenhos,

o pranto do Vinho

no sangue dos Negros,

o Pão da Partilha

dos Pobres Libertos.

Trazemos no corpo

o mel do suor,

trazemos nos olhos

a dança da vida,

trazemos na luta,

a Morte vencida.

No peito marcado

trazemos o Amor.

Na Páscoa do Filho,

a Páscoa dos filhos

recebe, Senhor.

 

Trazemos nos olhos,

as águas dos rios,

o brilho dos peixes,

a sombra da mata,

o orvalho da noite,

o espanto da caça,

a dança dos ventos,

a lua de prata,

trazemos nos olhos

o mundo, Senhor!

 

–Na palma das mâos trazemos o milho,

a cana cortada, o branco algodão,

o fumo-resgate, a pinga-refúgio,

da carne da terra moldamos os potes

que guardam a água, a flor de alecrim,

no cheiro de incenso, erguemos o fruto

do nosso trabalho, Senhor! Olorum!

 

O som do atabaque

marcando a cadência

dos negros batuques

nas noites imensas

da Africa negra,

da negra Bahia,

das Minas Gerais,

os surdos lamentos,

calados tormentos,

acolhe Olorum!

 

—Com a força dos bracos lavramos a terra

cortamos a cana, amarga doçura

na mesa dos brancos.

— Com a força dos braços cavamos a terra,

colhemos o ouro que hoje recobre

a igreja dos brancos.

—Com a força dos braços plantamos na terra,

o negro café, perene alimento

do lucro dos brancos.

—Com a força dos braços, o grito entre os dentes,

a alma em pedaços, erguemos impérios,

fizemos a América dos filhos dos brancos!

A brasa dos ferros lavrou-nos na pele,

lavrou-nos na alma, caminhos de cruz.

Recusa Olorum o grito, as correntes

e a voz do feitor, recebe o lamento,

acolhe a revolta dos negros, Senhor!

—Trazemos no peito

os santos rosários,

rosários de penas,

rosários de fé

na vida liberta,

na paz dos quilombos

de negros e brancos

vermelhos no sangue.

A Nova Aruanda

dos filhos do Povo

acolhe, Olorum!

 

Recebe, Senhor

a cabeça cortada

do Negro Zumbi,

guerreiro do Povo,

irmão dos rebeldes

nascidos aqui,

do fundo das veias,

do fundo da raça,

o pranto dos negros,

acolhe Senhor!

 

Os pés tolerados na roda de samba,

o corpo domado nos ternos do congo,

inventam na sombra a nova cadência,

rompendo cadeias, forçando caminhos,

ensaiam libertos a marcha do Povo,

a festa dos negros, acolhe Olorum!

 

Dom Pedro terraboa.blog .br

 

OFERTÓRIO

(Fragmento de MISSA DOS QUILOMBOS –

Texto em colaboração com Pedro Tierra )

 


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Réquiem para o Cerrado – O Simbólico e o Real na Terra das Plantas Tortas

Uma linda e singela história do . Em comovente narrativa, o professor Altair Sales nos leva à vida simples e feliz  no “jardim das plantas tortas” de um pacato  povoado  cerratense, interrompida pela devastação do Cerrado nesses tempos cruéis que nos toca viver nos dias de hoje. 

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Réquiem para o Cerrado

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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