Parque nacional e fazenda no Cerrado têm superpopulação de onças-pretas
Entre Bahia, Minas Gerais e Goiás, a região preservada é estratégica para proteger o grande felino ameaçado de extinção.
Por Aldem Bourscheit/O Eco
Quase metade das até 31 onças-pintadas vivendo nos 264 mil ha somados do Parque Nacional Grande Sertão Veredas e da Fazenda Trijunção são melânicas, tem a pelagem preta. A região de Cerrado preservado fica entre os estados da Bahia, Minas Gerais e Goiás.
Essa mutação genética seria vista apenas em cerca de 10% das onças-pintadas nas Américas e não ocorreria nas planícies alagáveis do Pantanal, no Brasil, Bolívia e Paraguai, e nos Llanos, na Venezuela, diz o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
A descoberta ocorreu graças a uma pesquisa conduzida pela organização não-governamental Associação Onçafari, ICMBio e Fazenda Trijunção. O trabalho avança com o monitoramento dos felinos por armadilhas fotográficas e rádio-colares equipados com GPS.
Assim, satélites traçam desde junho os caminhos de duas onças adultas. Isso permitirá um entendimento maior sobre onde buscam abrigo, presas, água e parceiros para procriar ao longo dos anos. Uma das onças evita áreas desmatadas, vive apenas junto à vegetação nativa.
Ainda conforme o mapeamento, ambos os espécimes perambulam por territórios de quase 500 Km2, alcançando até 80 km além dos limites do parque nacional. Isso tudo reforça a importância da conservação ampla do Cerrado para resguardar as onças e demais espécies nativas.
Aldem Bourscheit – Jornalista e Biologo. Fonte: O Eco. Foto: Eduardo Fragoso / Associação Onçafari.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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