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Pego no pulo o pangaré de Troia

Pego no pulo o pangaré de Troia

Por ACQ

Fracassou redondamente a tentativa do Palácio do Planalto de desmoralizar nesta quinta-feira, 1º de julho, na CPI da Pandemia, o depoimento dos irmãos Miranda, prestado na sexta-feira da semana passada. Nele os Miranda implicaram o próprio presidente Bolsonaro na maracutaia da compra da vacina indiana Covaxin…

Aqui não importa se o principal pangaré de Troia introduzido no interior da CPI é o próprio depoente, o cabo bolsonarista da PM mineira, Luiz Paulo Dominguetti Pereira, ou se o seu parceiro na Davati Medical Supply, Cristiano Alberto Carvalho, que lhe passou um áudio adulterado, mostrando o deputado Luiz Miranda em uma negociação de luvas cirúrgicas e não vacinas. Um dos dois pode estar a serviço de um bolsão do bolsonarismo. 

O que importa mesmo é que os senadores da CPI explodiram a versão adrede preparada de Dominguetti, obrigado a dizer no final do depoimento que foi induzido a erro por seu colega.

Houve logo quem comparasse o canhestro movimento dos bolsonaristas com a Operação Uruguai, a tentativa fabricada pelo ex-presidente Fernando Collor para justificar perante a CPI do Collorgate os seus gastos pessoais exorbitantes. A desculpa de Collor foi a de que ele havia contraído um empréstimo de US$ 3,75 milhões na república vizinha para a sua campanha eleitoral, que teriam sido convertidos em 318 quilos de ouro, adquiridos do doleiro uruguaio Najun Turner.

O mais relevante em todo o caso é que a CPI da Pandemia avançou hoje na constatação de que foi montado no Ministério da Saúde um vasto esquema de corrupção nos processos de aquisição, com recursos do SUS, de vacinas e insumos usados no combate à .

O próprio ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, acusado por Dominguetti de propor a propina de um dólar por dose da vacina AstraZeneca, confirmou, em nota pública, que se reuniu com o lobista no restaurante Vasco, tendo sido levado até lá pelo tenente-coronel do Exército Marcelo Blanco, que havia trabalhado no ministério até o dia 19 de janeiro. Ele negou a parte do pedido da propina, mas isso deverá ser esclarecido pela CPI da Pandemia. 

O oferecimento de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca pela Davati Medical Supply foi obviamente um conto da carochinha ou do vigário, a começar pelo fato de que a empresa texana jamais teve a representação do fabricante da vacina anglo-sueca Oxford/AstraZeneca, e esse não tinha estoque suficiente para atender demanda tão grande.

O que a CPI deverá levantar agora é como se organizou a organização criminosa de que participava o diretor de Logística Roberto Ferreira Dias, ao que tudo indica ligado ao deputado e ex-ministro da Saúde Ricardo Barros, o mesmíssimo parlamentar que está implicado na tentativa de golpe da Covaxin.

Por que razão o presidente Bolsonaro não demitiu Roberto Ferreira Dias quando o ministro Pazuello pediu que o fizesse já no ano passado? De quem partiram as pressões para que Bolsonaro o poupasse, além do senador Davi Alcolumbre, como reportou a rádio CBN e confirmou a Folha de S. Paulo?

Está mais do que evidente que o governo Bolsonaro é corrupto até o tampo, e que os seus esquemas de ladroagem são também responsáveis pela morte de meio milhão de brasileiros.

É preciso levar em conta, sem pruridos moralistas, que grande parte das provas da bagaceira foi revelada por ex-aliados do presidente Bolsonaro, como sempre acontece, aliás, quando um governo está se esboroando. 

Não importa se o deputado Luiz Miranda e o cabo Luiz Paulo Dominguetti são eles próprios bandidos. O que interessa são as evidências que esses ex-aliados do genocida estão expondo, e as gretas que eles vão abrindo no casco da canoa que está fazendo água.

Antônio Carlos Queiroz – ACQ – Jornalista da Resistência

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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