PEPE MUJICA: UM EXEMPLO AOS POLÍTICOS

PEPE MUJICA: UM EXEMPLO AOS POLÍTICOS

PEPE MUJICA: UM EXEMPLO AOS POLÍTICOS

O ex-presidente do Uruguai José Alberto Mujica Cordano, o Pepe Mujica, o amigo de Lula, dá uma lição aos políticos do mundo inteiro

Por Jaime Sautchuk

Mais uma vez, no final de outubro passado, o ex-presidente do Uruguai José Alberto Mujica Cordano, o Pepe Mujica, dá uma lição aos políticos do mundo inteiro. Ele renunciou ao mandato de senador, por achar injusto receber salário sem poder exercer o mandato parlamentar a contento, por causa do Coronavírus, impedido de conversar com eleitores, de resolver problemas, de representar o povo, enfim.Durante seu mandato como presidente da República (2010–2015), ele já havia se recusado a ocupar palácios públicos e continuou morando em sua pequena chácara em Rincón del Cerro, zona rural de Montevidéu, onde até hoje cultiva flores e hortaliças. Ainda enquanto presidente, Mujica doava quase 70% de seu salário ao seu partido, a Frente Ampla, e a um fundo pra construção de moradias populares.
Sua trajetória política, no entanto, vem desde muito antes, marcadamente no combate à ditadura militar uruguaia, que massacrou o povo de seu país de 1973 a 1985, coincidindo no tempo e na ideologia com a brasileira.
Foi líder do Movimento Tupamaros de Libertação Nacional e pegou em armas com ações cinematográficas. Mujica teve importante papel no combate à ditadura militar no Uruguai, que massacrou o povo daquele país de 1973 a 1985. Na guerrilha, participou de assaltos, sequestros e do episódio conhecido como Tomada de Pando, ocorrido em 8 de outubro de 1969.Nessa ocasião, os tupamaros tomaram a delegacia de polícia, o quartel do corpo de bombeiros, a central telefônica e várias agências bancárias da cidade de Pando, situada a 32 quilômetros de Montevidéu. Mujica foi preso e passou 14 anos na prisão, de onde só saiu no final da ditadura, em 1985, quando os guerrilheiros tupamaros e outros presos políticos foram libertados.

POLÍTICA NO SANGUE

Por parte de pai, Mujica é descendente de bascos, cuja origem é a cidade de Múgica, na Espanha, um povo com tradição guerreira. A família chegou ao território espanhol vizinho do Brasil em 1840. Filho de Demétrio Mujica Terra e Lucy Cordano, ele nasceu em 20 de maio de 1935, no bairro Paso de La Arena, em Montevidéu.
A família de sua mãe, por sua vez, era de imigrantes italianos. O sobrenome Cordano, de seu avô Antonio, é originário da província de Gênova, a mesma região de onde veio a família Giorello, de sua avó Paula. Seu pai era um pequeno agricultor que foi à falência pouco antes de morrer, em 1940, quando Mujica tinha seis anos.
Mujica recebeu educação primária e secundária em escola pública do bairro onde nasceu. É casado desde os anos 1970 com a também militante Lúcia Topolansky e é ateu, sem convicção religiosa.
Seu tio materno, Ángel Cordanoera, é líder nacionalista e teve grande influência sobre a formação política de Mujica. Em 1956, conhece o então deputado nacionalista Enrique Erro, por meio de sua mãe, militante de seu setor. Desde então, começou a militar no Partido Nacional, onde chegou a ser secretário-geral da Juventude.
Nas eleições de 1958, triunfa pela primeira vez o Herrerismo, e Erro foi designado ministro do Trabalho, sendo acompanhado por Mujica nessa época. Em 1962, os dois abandonam o Partido Nacional para criar a Unión Popular, junto ao Partido Socialista do Uruguai, e um pequeno grupo chamado Nuevas Bases. Nessas eleições, colocam Emílio Erugoni como candidato a presidente da República, mas ele chega apenas aos 2,3% dos votos.
Nos anos 1960, partiu pra luta armada, com o Movimento Tupamaros, com o qual participou de operações de guerrilha, enquanto trabalhava em sua chácara, até se refugiar na clandestinidade. Durante o governo de Jorge Pacheco Areco, a violência aumentou, fazendo crescer a guerrilha e a oposição de sindicatos e grêmios diante do arrocho econômico.
Nos enfrentamentos armados, foi ferido por seis tiros e preso quatro vezes, e, em duas oportunidades, fugiu da prisão de Punta Carretas. Seu último período de detenção durou treze anos, entre 1972 e 1985. Foi um dos dirigentes tupamaros que a ditadura militar tomou como refém, eles seriam executados caso sua organização retornasse às ações armadas.
Entre os reféns também se encontravam Eleutério Huidobro, ex-ministro de Defesa Nacional, e o líder e fundador do MLN-Tupamaros, Raúl Sendic, cujo filho Raúl Fernando Sendic foi vice-presidente da República no segundo mandato de Tabaré Vásquez, mas renunciou, e quem assumiu a vice-presidência foi a esposa de Mujica, Lúcia Topolansky.
Alguns anos após a abertura democrática, ele criou, junto a outras lideranças do MLN e outros partidos de esquerda, o Movimiento de Participación Popular (MPP), dentro da Frente Ampla. Nas eleições de 1994, foi eleito deputado por Montevidéu.
Sua presença na arena política era diferenciada, chamando a atenção positivamente. Assim, nas eleições de 1999, foi eleito senador, e foi publicado o livro Mujica, de Miguel Ángel Campodónico. Em março de 2005, o então presidente Tabaré Vázquez o designou ministro da Agricultura, cargo que ocupou até 2008, quando se candidatou à presidência da República – e foi eleito.

AMIGO DE LULA

Pepe Mujica conheceu o ex-presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva nesta fase de sua vida, por contingências diplomáticas, digamos. Contudo, a maneira injusta com que Lula foi afastado da política e até levado à prisão política lhe causaram profunda indignação, como ele revelou por diversas vezes, mundo afora.

Os dois se tornaram fraternos amigos, se encontram e conversam com frequência, seguindo, cada qual a seu jeito, a linha política de uma socialdemocracia latino-americana, que tende a crescer nos próximos anos.

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p style=”text-align: justify;”>Foto de lado1 1 scaledJaime Sautchuk – Jornalista (in memorian)

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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