“Pesadelo”: Narrativas dos Anos de Chumbo
Li, no final do ano, o “Pesadelo” lançado pelo Pedro Tierra sobre os Anos de Chumbo vivido pelo povo brasileiro no período da ditadura militar (1964-1985). Mais do que uma obra de ficção (por definição do autor), o livro é um soco no estômago, um pungente registro histórico, um chamado à indignação. O resto, você descobre no resumo distribuído para o lançamento (publicado a seguir) e na leitura obrigatória “Pesadelo”.
Por Zezé Weiss
“Em um país que ainda não acertou todas as suas contas com o último regime ditatorial e que ouve, cada dia mais alta, a voz dos que elogiam o período de exceção, reunir personagens que contem as histórias de horror vividas por aqueles que decidiram lutar pela democracia é uma urgência. Esse foi o norte que guiou Pedro Tierra na produção do seu mais novo livro, Pesadelo – Narrativas dos Anos de Chumbo. Uma obra de ficção.
“Sempre busquei na poesia uma forma de apresentar a realidade e a usei como forma de fazer pensar e refletir sobre o país que queremos. Mas a linguagem às vezes afasta. No Brasil a poesia é muito relacionada ao sentimental e ao pouco ao racional. Decidi testar uma nova forma de chegar ao leitor, a ficção”, conta Pedro.
O livro, editado pela Fundação Perseu Abramo e Autonomia Literária, tem oito capítulos. No primeiro, Pedro Tierra contextualiza as narrativas e lança luz sobre o momento em que vivemos. “Sigo vivendo num país que não cultiva memória e, consequentemente, sempre corre o risco de repetir suas tragédias. Penso que há ainda muito mais a dizer sobre aquele período do que já foi dito. As zonas de sombra predominam sobre as que foram esclarecidas pelas abnegadas pesquisas e buscas de familiares, militantes, jornalistas, historiadores. Então, o escritor é chamado a dizer, por meio da ficção, a verdade que o relatório, o boletim, o depoimento não alcançam”, diz ele no capítulo Conversação sobre pesadelos. Os demais capítulos são sete ficções elaboradas a partir de histórias vividas pelo autor, um mosaico claro do que foram os anos de ditadura no Brasil.
As parcerias sempre foram uma marca presente no trabalho de Pedro Tierra. Com Pedro Casaldáliga, escreveu a Missa da Terra Sem Males, musicada pelo argentino Martin Coplas. Repetiu a parceria com Pedro Casaldáliga, só de que desta vez com Milton Nascimento na composição da Missa dos Quilombos. Em “Pesadelo” não foi diferente. A capa e as ilustrações do livro são do designer e ilustrador Elifas Andreato, que generosamente permitiu que sua obra A Verdade Ainda que Tardia completasse o livro.”
Pesadelo está disponível no site da editora Autonomia Literária
Pedro Tierra (Hamilton Pereira da Silva) – Poeta e escritor, nascido em Porto Nacional, no Tocantins, e radicado em Brasília. Militante de esquerda, enfrentou a ditadura militar e foi preso entre 1972 e 1977. Publicou dez livros, o primeiro, Poemas do Povos da Noite, publicado originalmente em italiano, em 1977, que lhe rendeu menção honrosa no Prêmio Casa das Américas, em 1978.
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