Petra Costa detona o inominável no New York Times
Neste sábado (25), o famoso diário norte-americano The New York Times publicou um artigo da cineasta brasileira Petra Costa sobre ataques recentes do governo de Jair Bolsonaro à cultura e ao jornalismo no Brasil, e também sobre a reação da direita brasileira à indicação do seu filme “Democracia em Vertigem” ao Oscar na categoria Melhor Documentário.
Em seu texto, a diretora destaca a reação raivosa da direita brasileira à indicação do seu filme ao maior prêmio do cinema nos Estados Unidos. “Após a nomeação, minha equipe foi inundada por mensagens nas mídias sociais nos parabenizando pela conquista. Já o governo reagiu de forma diferente. O então Secretário de Cultura, Roberto Alvim, disse: ‘Se fosse na categoria de ficção, a nomeação seria correta’”.
Em outra passagem, Costa afirma que “o assalto sistemático do governo Bolsonaro à verdade tomou agora um rumo preocupante”, e conta que “em 2016, eu entrevistei Bolsonaro sobre seus planos para o setor cultural e ele reclamou que nenhum filme brasileiro era bom o suficiente para ser premiado com uma indicação ao Oscar. Na semana passada, no entanto, ele desprezou nossa indicação dizendo ‘para quem gosta do que urubu come, é um bom filme’. Em seguida, ele admitiu não ter visto o filme, mas isso não impediu que a legião de trolls que o segue nas redes sociais de papaguear a acusação de que o filme era fake news”.
A cineasta também lembra do escandaloso vídeo de Roberto Alvim com citações nazistas, que levou à sua exoneração da Secretaria da Cultura: Em um vídeo postado nas redes sociais para promover um prêmio nacional de arte, ele proclamou que “a arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional, será dotada de uma grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que é profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo — o então não será nada”.
O discurso repete frases do ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels, proclamadas em maio de 1933. Um retrato de Bolsonaro aparecia atrás de Alvim, enquanto “Lohengrin” — uma ópera do compositor favorito de Adolf Hitler, Richard Wagner — podia ser ouvida ao fundo.
Petra conclui seu artigo dizendo que “não há luz visível no fim do túnel desta guerra cultural que procura censurar os valores liberais e progressistas e desconstruir a verdade para impor um fascismo tropical. Como aponto em ‘Democracia em Vertigem’, a elite se cansou do jogo da democracia. A história do nazismo mostra que as elites que se calaram diante do avanço do autoritarismo acabaram sendo engolidas por ele. A extinção é o preço da omissão”.
Fonte: Revista Fórum